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Battle Royale vs. Jogos Vorazes: “Battle Royale”, livro que dizem ter inspirado “Jogos Vorazes"

1.4.14Dana Martins


Vamos estudar o que esses dois têm de igual, de diferente e essa história de inspiração.

Quando vejo essa frase [do título] eu tenho vontade de pegar uma metralhadora e matar alguém. É uma frase TÃO idiota. TÃO sensacionalista. TÃO "não faço ideia do que estou falando". E pior de tudo: tão preconceituosa. É uma das provas do que discutimos quando falamos das 10 razões para autores homens fazerem mais sucesso do que mulheres

As premissas de Jogos Vorazes e Battle Royale são iguais: um monte de jovens presos em uma arena para se matar. Assim como as premissas de Gone, do Michael Grant, e Sob a Redoma, do Stephen King, também são iguais (de repente um "campo de força" isola uma área). Mas ninguém diz que Sob a Redoma foi inspirado em Gone, porque um autor consagrado certamente não teria copiado um autor infanto-juvenil... Aliás, poderíamos até dizer que esses quatro livros são um cópia do outro, porque estamos falando de um grupo de pessoas isolado em uma área lutando para sobreviver.


Apenas: não.

E eu nem vou começar a discussão sobre não existir histórias originais. Vamos logo comparar Jogos Vorazes e Battle Royale. \o/

Jogos Vorazes, da Suzanne Collins, é um livro lançado nos Estados Unidos em 2008. Battle Royale, do Koushun Takami, foi publicado no Japão em 1999 e em inglês em 2003, nessa época já tinha virado filme e mangá.


O universo

Jogos Vorazes é um futuro distópico, em Panem (um país que surgiu depois que o mundo como conhecemos foi destruído por algum apocalipse), que escraviza as pessoas em distritos e criou um reality show para provar seu poder e castigar as pessoas. Sobre o que é Jogos Vorazes?

Battle Royale é um Japão totalitarista alternativo de 1997, que funciona como o Japão na época, só que com muita censura (o rock, por exemplo, é proibido) e criou esse projeto ninguém sabe o motivo exato. O autor nem ambiciona desenvolver essa parte. Resenha de Battle Royale.

Veredito: Ambos são distópicos, mas bem diferentes quanto ao desenvolvimento. 


Tipo de narração

Jogos Vorazes é narrado em primeira pessoa pela Katniss Everdeen, durante os três livros nós temos acesso apenas à visão dela e ao que ela faz na arena.

Battle Royale é narrado em terceira pessoa e sabemos sobre vários personagens - quem eles são e o que eles estão passando.

Veredito: Diferente.


A história de amor

Em Jogos Vorazes nós temos a relação Peeta-Katniss (+Gale) e é tratado de forma funcional pela história. Katniss nem pensa em ter um relacionamento amoroso porque não quer colocar uma criança em um mundo desse, depois se aproxima de Peeta para atrair o público e aí começa a pensar no Gale de maneira diferente, mas é obrigada a vender seu amor pelo Peeta e, no fim da história, é o Peeta que retorna para ajudar Katniss a se reerguer. Em um momento Gale diz que Katniss vai ficar com quem for melhor para ela (em termos práticos) e é o que acontece.

Em Battle Royale quase todas as garotas gostam do Shuya, inclusive Noriko, mas ele não tem a capacidade de perceber isso. Conforme ele é levado a cuidar dela os dois acabam se aproximando, mas eu realmente não lembro se eles chegam a se definir com um casal ou se há algum tipo beijo. Não é como se houvesse tempo para esse tipo de coisa. Além disso, vários outros romances são desenvolvidos (já que não é um protagonista exato), tipo o caso do Hiroki Sugimura, que eu acho que é o melhor em termos de romance. <3

Veredito: Mais ou menos parecido. O romance é importante nas duas histórias e ao mesmo tempo não são o foco da história.


Violência

Os dois são relativamente pesados. Não tem como falar de "crianças se matando em uma arena" e não ser pesado. 

Em Jogos Vorazes nós não fugimos de cenas como o Thresh matando a Clove a pedrada ou da Katniss falando de tributos anteriores que viraram até canibais. 

Mas Battle Royale... tripas rolando e corpos sendo mutilados. 

Veredito: Parecido. Jogos Vorazes é como uma versão suavizada de Battle Royale.


Inspiração e Origem

Suzanne Collins diz que teve a ideia para Jogos Vorazes enquanto trocava de canais pela televisão. Em um canal havia um grupo de jovens competindo (em um reality show) e no outro um grupo de jovens lutando em uma guerra de verdade. Ela estava cansada, tudo se misturou e... Jogos Vorazes. Ela também diz que se inspirou no mito do Teseu e o Minotauro, que tem a mesma premissa que Jogos Vorazes e Battle Royale (Atenas precisava mandar 14 jovens para serem devorados pelo Minotauro no labirinto de Creta. Até que Teseu, o filho do rei, se candidatou para ir.) Outras influências são Espártaco, Roma Antiga e as experiência de guerra do pai da autora. - Você pode saber mais sobre em que Jogos Vorazes foi realmente inspirado aqui.

Koushun Takami fala que estava deitado no sofá já tarde quando teve a imagem mental de um professor em uma série colegial que ele assistiu na tv há muito tempo. O professor dizia "Certo, turma, escutem. O dever de hoje é todo mundo se matar!" Isso devia ser uma comédia, mas o sorriso do professor passava do limite e se transformava em macabro. E ele pensou: e se isso fosse verdade? Ele diz que se inicialmente imaginou algo mais esportivo baseado em um tipo de wrestling profissional chamado battle royal, onde entram de 20 a 30 lutadores no ringue de uma só vez. Stephen King é uma de suas maiores inspirações, especialmente A Longa Marcha (escrito como Richard Bachman). Na minha edição do livro (em inglês, editora Haika Soru) vem uma entrevista com autor onde ele fala de diversas influências - alguns personagens que foram moldados com base em outros ou diálogos que são quase iguais ao de outros livros ou filmes. 

Veredito: Curiosamente, assistir televisão parece ser uma ótima forma de se inspirar! Passarei mais tempo no sofá. Mas fora isso, é bem diferente. Você consegue ver uma diferença substancial do momento que tiveram ideia e como isso deu tom diferente aos dois livros (reality show + guerra vs. colegial). Um autor citado por ambos como preferido é George Orwell.


Mas os dois são muito parecidos! Nada disso significa que Jogos Vorazes não foi inspirado em Battle Royale

Vamos ser sinceros: ter um monte de pessoas em uma arena para se matar não é nada inovador. Eu passei horas da minha infância jogando multiplayer do 007 onde fazíamos exatamente isso. Uma arena, jogadores e o objetivo: matar os outros. Atualmente há reality show para todo lado e eles funcionam exatamente assim: um monte de gente, um vencedor. Aliás, as Olimpíadas funcionam assim, os jogos do gladiadores antigamente funcionavam assim. O nosso vestibular funciona assim. O nosso mercado de trabalho funciona assim! Acho que um contexto para se inspirar nisso é o que não falta.

A questão é que a gente tem que largar essa mentalidade de que existe uma ideia original, de que os outros estão copiando e, principalmente, largar a ideia de que copiar é algo ruim. Mesmo se estivessem copiando, como eu não duvido que seja o caso de A Seleção com Jogos Vorazes, isso não importa muito. Por quê?


Porque o que importa é a forma que você faz.

Jogos Vorazes, em primeiro lugar, busca mostrar as consequências dessa ideia de "uns podem ser sacrificados em nome do bem geral." O efeito que causa quando você acredita que uma voz pode ser descartada em nome de muitas. Ele fala sobre a mídia, sobre a propaganda, sobre confiança e muito mais. Isso em uma história de três livros e no terceiro nem temos uma arena propriamente dita.

Já Battle Royale foca na arena em si, na experiência daquele momento. Não no que ela significa para o país, ou o que ela pode causar em alguém que saiu. Não. O próprio autor fala que essa parte só foi criada para dar um contexto onde é possível pessoas se matarem e ele nem tem interesse em desenvolver muito isso. O livro mostra até onde as pessoas podem ir por causa da arena - como é a experiência dela ali. Seja na luta brutal pela sobrevivência ou nos dilemas de confiança. 

Se eu fosse comparar Jogos Vorazes com Battle Royale quanto a uma história sobre pessoas sobrevivendo em uma arena, Jogos Vorazes não entraria nem na competição. No filme nós ainda temos uma maior humanização dos tributos que estão lutando, mas no livro a Katniss mal sabe o nome da maioria. Ela foca no que ela sabe e na própria sobrevivência. Já Battle Royale não. As coisas ficam ainda mais tensas porque os jovens lutando se conhecem desde sempre. Você vê o que está acontecendo com cada um.

Mas tratar Jogos Vorazes como se fosse só arena é não entender nem metade da história.


As duas histórias são incríveis e trazem perspectivas completamente diferentes e inovadoras. As duas não se completam, porque não há nem o que completar. Elas são muito boas do próprio jeito. E pra que ter uma só se você pode ter duas?

E, sim, eu passei um tempo fora sobrevivendo a um apocalipse próprio e fiquei com saudade de brincar no photoshop, então criei imagens diferenciadas para esse post sem o menor motivo. u.u

-dana martins


Textos que eu copiei, me inspirei ou que encontrei depois 
(e não só são parecidos, como completam o que eu disse!):
Centro de Treinamento: A Origem de Jogos Vorazes
Entrevista com a Suzanne Collins
Inspiration Is Not Infringement
Did the Hunger Games really rip off Battle Royale?
Hunger Games vs. Battle Royale
Entrevista com Koushun Takami usada como referência está na edição de Battle Royale da Haika Soru 
O que é battle royal?
O que é battle royal 2?

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15 comentários

  1. (1/?)

    Nossa, calma lá. Você está tão vidrada em defender The Hunger Games que faz comparações idiotas como "mas THG é escrito em primeira pessoa e Battle Royale é em terceira, logo, DIFERENTE!". THG não é copia e cola de BR, até porque tem todas as influências do YA americano (protagonista mulher, em primeira pessoa, que tem que escolher entre o mocinho bonzinho e o mocinho misterioso, essas coisas). Vamos lá.

    1- Tem certo momento que você não pode mais dizer que uma coisa não é muito, muito parecida com a outra. Já vi gente falando que se THG é inspirado em BR, então BR é inspirado em The Long Walk, Lord of Flies, que seja, porque são históricas distópicas onde pessoas devem se matar no fim. Sendo ou não, ao menos o Koushun Takami conseguiu disfarçar melhor de onde veio, enquanto a Suzanne Collins não.

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    1. (2/?)

      Você fala que então histórias onde pessoas são postas para se matarem devem ser cópias, mas ignora que se eu te disser que há um livro que fala de um grupo de adolescentes - em número igual de homens e mulheres - que são colocados num lugar isolado do mundo e forçados a se matarem por um Estado totalitário enquanto essa desgraça é televisionada, você não saberia me dizer se é THG ou BR. Mas saberia que é um deles. Capisce?

      2- Tipos de narração? É sério isso? Como eu falei, a narrativa em primeira pessoa (péssima, por sinal) da Collins deve ter vindo da herança do YA. É só uma escolha de como vai contar a história. Ninguém diz que THG é xerox de BR.

      3- Romance? Sério? Por que você não coloca que no final o casal principal fica de cara contra o maior inimigo deles, mas conseguem ambos se safarem indo contra as regras do jogo, e os dois sobrevivem e vencem? Você não saberia me dizer, de novo, se isso é de THG ou de BR.

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    2. 4- Violência? É sério? Isso não são modos de comparar se histórias são parecidas ou não. O quesito "romance", "violência" e "narrativa" só mostra que THG é uma versão super suavizada de BR, porque toda (ou a grande maioria) das histórias tem violência, romance e podem ter vários tipos de narrativa.

      5- Inspirações? É sério isso?

      6- Não são "pessoas numa arena se matando". São "adolescentes, metade mulheres, metade homens, são postos por um Estado totalitário e quasi-fascista numa localização isolada do mundo e postos para lutar com armas completamente aleatórias, enquanto o mata-mata é televisionado". Não vou nem citar que o modo de comunicação de dois amigos personagens é igual em THG e em BR (ambos imitando o canto de um pássaro) e que um deles morre pouco depois disso.

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    3. (4/?, faltou isso no outro, hahaha)

      7- Dizer que porque o autor quis usar o Estado totalitário (me manda aí uma fonte disso por favor, não que eu duvide, mas porque falta fonte) só para ter um plano de fundo pro mata-mata e por isso a história não foca nas pessoas que entram e saem é praticamente dizer que você não leu o livro. Todos os personagens de BR falam de sua vida antes do jogo, e nós conhecemos a vencedora do último jogo também. O mundo é desenvolvido suficientemente para entendermos o que houve, as guerras, o militarismo/fascismo instalado, a anti-ocidentalização e até mesmo a caricatura/exagero/paródia do comunismo que rola nesse Japão do Takami.

      8- Você ao menos tentou comparar os dois ou inventou meia dúzia de critérios irrelevantes pra dizer que THG não copiou BR? Se eu escrevesse uma história de dois adolescentes com câncer, e aí eles se apaixonam, e um deles usa um desejo especificamente dado por uma organização que os ajuda para agradar o outro, você certamente acharia que eu estou imitando o John Green. Agora, se o John Green fosse, sei lá, francês, e eu fosse americano, mesmo que eu tivesse publicado depois, você ainda defenderia a minha história porque não teve contato com o original francês e sente muito mais pela minha versão que a dele. Não há nada 100% original, mas certamente há coisas mais originais que as outras, e certamente essa onda de "YA passado em um universo distópico onde as crianças são postas pra lutar por um Estado totalitário" veio de THG, que foi indiscutivelmente baseado em BR; assim como o romance sobrenatural da menininha humana com dois gostosos mágicos começou com Crepúsculo e ninguém nega.

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    4. (5/?)


      Se THG fosse realmente original, não seria tão facilmente comparado a BR. Existe tanto jeito de se fazer uma distopia com um battle royal, você não tem noção. Pegue Mirai Nikki, por exemplo. É um anime de battle royal, mas ninguém diz que é cópia de Battle Royale porque esse conceito já estava definido há muito tempo. Ninguém diz que é cópia porque em vez de um Estado totalitário que põe as crianças num ambiente isolado pra brigarem por motivos televisivos, é um deus do tempo-espaço que bota adultos e crianças para lutarem entre si indiscriminadamente numa cidade específica, e elas fazem uso de qualquer coisa que tem e de qualquer estratégia. O limite de tempo é o próprio fim do mundo e não um "se vocês não se matarem em X tempo, todo mundo morre". Tem um casal que sobrevive, mas não do jeito que se imagina. Eles usam celulares para preverem ações dos outros ou de si mesmos e se salvarem, muitas vezes prevendo a própria morte e tendo que trabalhar para contorná-la.

      Enquanto isso, tem um desenho inspirado num jogo, chamado Devil Survivor 2, em que os protagonistas estão presos numa cidade e tem que sobreviver e usam seus celulares para preverem suas mortes e darem um jeito de a contornarem... é um conceito muito específico que parece o de Mirai Nikki, mas os enredos no geral são tão diferentes que ninguém ousaria dizer também que DS2 é cópia de MN.

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    5. (6/6)


      Para piorar, todo mundo tem todo o direito de desconfiar que um americano está copiando ou baseando sua obra sem a mínima vergonha num original asiático. Acontece o tempo todo com filmes: Ringu virou O Chamado, Inception tem ideia geral e cenas copiadas e coladas de Paprika, The Black Swan tem enredo e cenas também iguais às de Perfect Blue...

      Recomendo esses artigos que são muito mais minuciosos nas comparações e as questões sociopolíticas ao redor da controvérsia; e adicionam também à sua bibliografia que parece que foi especialmente escolhida para defender a Collins (e tudo bem, mas devemos ver todos os lados da questão; e acredite, eu fiz isso):

      http://www.hyphenmagazine.com/blog/archive/2012/03/why-hunger-gamess-snub-battle-royale-matters
      http://blogs.wsj.com/speakeasy/2012/03/23/the-hunger-games-vs-battle-royale/
      https://movies.yahoo.com/blogs/the-reel-breakdown/battle-royale-japanese-version-hunger-games-182512056.html
      http://www.jonathanlack.com/2012/03/hunger-games-versus-battle-royale.html -> O melhor.
      http://thoughtcatalog.com/2012/how-has-the-author-of-the-hunger-games-not-heard-of-battle-royale/ -> Importante para levantar dúvidas sobre a afirmação da Collins que ela nunca tinha ouvido falar de BR.

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    6. Antes de tudo: muito obrigada, anônimo! Eu estou muito feliz por você ter vindo aqui e se disposto a mostrar todos esses exemplos. Isso mais que completa a conversa.

      Agora deixa eu falar aqui: se eu pequei por defender Jogos Vorazes, você pecou por defender Battle Royale. Na verdade, eu nem diria isso, eu acho que o seu erro foi partir do princípio que eu foquei em defender Jogos Vorazes (o que em parte foi, mas só parte).

      1- Acho que esse é uma questão clara que mostra parte do mal entendido com o texto: Parte do objetivo aqui é questionar essa visão sobre "cópias" e "originais", porque não existem histórias originais. Mesmo quando a pessoa puramente tem a ideia sem olhar outra e pensar "vou fazer igual", mesmo sem ela nunca tiver ouvido da existência da outra história, mesmo se ela viver na Antiguidade em continentes diferentes, ela pode acabar tendo a mesma ideia do que outra pessoa. Se isso já acontecia assim, imagine hoje onde temos diversas pessoas que vivem em contextos muito parecidos mesmo em pontas opostas do mesmo planeta. Aliás, quando uma ideia se torna relevante ("moda"), é porque é algo que está sendo significante naquele momento específico para várias pessoas ao mesmo tempo. E isso vai desde roupas até conceitos mais profundos. Só que entre essas muitas pessoas nós temos "produtores" que acabam canalizando isso no seu trabalho, então nós temos diversas pessoas produzindo coisas muito parecidas. É claro que depois que explode existe muita cópia e gente que faz só pra se aproveitar (e às vezes faz bem). Mas nem tudo é apenas cópia para se aproveitar. E, no fim das contas, não importa tanto assim se é cópia. Nós ganhamos muito mais discutindo sobre o que JV e BR contribuem para gente, do que discutindo sobre qual é o original.

      E se você parar pra ler os autores preferidos de qualquer autor, inclusive o de Battle Royale, vai ver que ninguém "esconde tanto assim." Aliás, o próprio Koushun Takami não dá a mínima para esconder e fala abertamente de trechos que copiou praticamente iguais de outras obras. Capisce? (fonte: entrevista dele para a VIZ)

      2- Tudo bem que o tipo de narração é só "uma escolha de como contar uma história", mas isso é crucial. Por que Fitzgerald conta a história do Gatsby do ponto de vista do Nick? Por que Dom Casmurro é narrado em primeira pessoa? Por que Convergente passa a ser narração de dois personagens? O tipo de narração é fundamental para o tipo de história que está sendo contada.

      No caso Jogos Vorazes vs. Battle Royale principalmente. Jogos Vorazes é preso à Katniss, porque o objetivo é mostrar exatamente a visão de uma pessoa diante de todos os acontecimentos: a história não é de Panem, de vencer a guerra, de causar uma revolução, é a história da Katniss. E essa narração em primeira pessoa é fundamental.

      Battle Royale nós temos o casal principal, mas nós temos a narração em primeira pessoa e conhecemos diversos personagens. Porque o objetivo principal é mostrar as diferentes pessoas reagindo na situação limite de ser colocado em um ambiente limitado para matar os seus amigos (veja bem como os conceitos tratados em JV e BR quanto a amigos são quase inversos: em Battle Royale são seus amigos que você percebe que não pode confiar, enquanto em Jogos Vorazes são desconhecidos que você precisa aprender a confiar não pelo jogo, mas para pode desestruturar o governo do país).

      A narração é importante sim, porque é um exemplo claro da diferença substancial dos objetivos da história e dos significados do que está sendo desenvolvido.

      Em uma comparação meio boba: é como se nós saíssemos com a mesma camisa rosa, mas eu coloquei porque quero ser feminina e você porque perdeu uma aposta com os seus amigos e tinha que sair "gay" (vamos ignorar o sexismo do exemplo). Estamos iguais, mas por motivos totalmente diferentes e é simplesmente irrelevante apontar quem é o copiado.

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    7. 3- Sua comparação entre o romance nos dois casos de romance é muito boa. Obrigada por compartilhar. Ainda podemos colocar que nos dois casos o "interesse romântico" do protagonista gosta dele sem que ele saiba e que não é o envolvimento amoroso em si que faz os dois se ajudarem.

      4- Outro ponto de vista: O uso da violência na história também mostra a diferença no que a história quer representar. BR é muito focado na crueldade do momento, um relato mais realisto de passar por uma experiência assim. Eu não duvido que em um Jogos Vorazes aconteça cenas grotescas como a daquela menina com o garoto que quis se aproveitar dela, e acho que ela espeta o olho dele com algum troço? Ou os dedos? Estou grata por não lembrar dos detalhes do que aconteceu, mas é um exemplo extremo de uma realidade de algo assim: você vai encontrar alguém, vocês não vão confiar um no outro, vocês não vão ter nenhum tipo de arma suave e vocês vão ter que lutar como conseguirem. Isso é chocante. E se você vai tratar de uma arena e de uma situação assim, você precisa mostrar esses detalhes.
      Já JV o foco é mais em consequências. Tanto que você tem partes da história muito mais focadas em como os tributos sobreviventes ficam depois. Aliás, o primeiro tributo que nós conhecemos no livro, o Haymitch, faz sua estreia na série caindo bêbado. É claro que a história ainda precisa mostrar os dilemas de confiança e o medo, o que ela faz muito bem com a relação da Katniss com o Peeta no primeiro livro (antes do mundo de spoilers, você não tinha como saber se ele estava só fingindo ou realmente gostava dela) e Em Chamas com os outros tributos. Na verdade, mesmo depois disso: ela descobre que foi enganada pelo Haymitch. Que foi usada por todo mundo. Mas o objetivo da JV não é mostrar crianças se matando em uma arena. E isso é uma diferença fundamental entre as duas histórias.

      5- Sim, é sério. De onde os dois autores tiveram as ideias, o que mostra que é muito possível duas pessoas diferentes em situações diferentes chegarem a conclusões parecidas. Mas eu já explico tudo isso no 1.

      6- Sim e não. Vamos lembrar que o mata-mata de BR só é televisionado no mangá (e talvez no filme, não sei), no livro não só não há câmeras, como isso é uma parte crucial para os protagonistas sobreviverem. O canto imitando o pássaro acho que é uma das coisas que mais aproxima um do outro, mas isso não é o suficiente pra afirmar que essa ideia realmente foi tirada de BR. E mesmo se fosse, enquanto em BR é só uma forma de comunicação, em JV isso faz parte de uma simbologia bem maior. Mas temos aqui uma boa pergunta: esse apito aparece no mangá e no filme? (e de onde o autor de BR tirou a ideia disso?)

      7- O próprio autor fala isso na entrevista com a VIZ, citada como fonte acima. E eu não disse que não foca nas pessoas. Pelo contrário, BR foca exatamente nisso. O que eu disse foi que não foca no significado exato de existir algo chamado Battle Royale nesse Japão onde é possível fazer esse tipo de coisa. Até mostra algumas coisas, como a questão do rock ser proíbido ou da internet, mas são contextos que dão base para os personagens ali, na ilha. Mostra como o protagonista já é meio diferente do resto, transgressor. E, além disso, o plano de fundo que eu estou falando é a situação política e isso não significa que seja irrelevante, é só que é apenas o básicos para justificar um mundo onde existiria um programa como esse e ninguém faria nada. Não que depois que tenha decidido isso, a ideia não tenha crescido e influenciado na história (o próprio caso do rock e internet mostram isso), mas que não é nem de longe estruturado como o de JV, porque não é nem o objetivo. (o mesmo caso da violência, só que ao contrário)

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    8. E já que você gosta do tema, algo que eu achei bem legal na entrevista: Takami fala que quando começou a criar a nação (que foi baseada em um governo parecido com o de A Longa Marcha, do Stephen King - palavras do autor) que serviria de cenário para a história, quis incorpora o sentimento de quando era jovem de que estava "preso" no Japão. Ele fala mais, mas é muita coisa para traduzir. HUAHUAH recomendo a leitura

      8- Você leu os dois ou tentou comparar os dois com base na história de BR? Eu posso dizer, como disse, que Jogos Vorazes é uma versão suavizada de Battle Royale. Mas eu também posso dizer que Battle Royale é uma versão suavizada de Jogos Vorazes, se vamos falar de mostrar os efeitos de existir algo assim em uma pessoa e na sociedade. Eu li os dois livros e eu gosto muito das duas histórias. E eu não defenderia a sua história, como não estou defendendo só Jogos Vorazes aqui, porque esse não é o ponto: se vamos ler uma com o filtro da outra, estamos perdendo alguma boa história.

      E a única coisa que eu discordo com você totalmente em tudo o que você disse é esse "indiscutivelmente baseado": daqui a pouco nós podemos lançar em parceira um terceiro livro discutindo essa ideia de que foi baseado. Se fosse indiscutível, essa conversa nem teria começado.

      Eu não sei pra que você acha importante afirmar que é baseado. Que diferença isso faz pra você?

      O meu motivo para afirmar que não é baseado: Isso tem um sentido pejorativo na nossa cultura e cria uma disputa inútil entre os fãs (novamente: um dos objetivos do meu post é justamente questionar a necessidade que algumas pessoas têm de falar em "original", o que vira uma disputa de quem é superior babaca e serve só pra afirmação de ego). Sem falar que por causa disso as pessoas acabam se prendendo a uma só história e não enxergam o potencial da outra (tanto fãs de Jogos Vorazes lendo Battle Royale, como fãs de Battle Royale lendo Jogos Vorazes). E isso é: babaca. Uma forma besta de ignorância.

      E pra deixar claro: eu não estou aqui disputando com você quem está mais certo ou qual é melhor. Eu estou fazendo isso em parte porque ajuda a articular mais meus pensamentos e porque eu acredito que o que aconteceu aqui foi um mal entendido - por exemplo, toda a sua análise do meu post (às vezes muito boa) foi feita sem se dar conta de que o que está em pauta aqui é o objetivo da história em si, não elementos separados que são semelhantes. (aposto que o tv tropes consegue listar várias histórias que também usam vários desses elementos)

      Olha só, acabei de encontrar mais um elemento semelhante: os dois protagonistas são envolvidos com música, que, aliás, é um símbolo da liberdade de expressão nas duas histórias.

      Alguns elementos completamente diferente: bem, toda a história de manipulação da mídia que engole pelo menos metade dos livros antes da arena. E no livro Battle Royale é inexistente (apesar, é claro, de haver um cuidado porque estão sendo observados) Os mutantes. A fome. Centro de treinamento.

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  2. Isso é uma boa questão: por que dizem que é tão parecido? A sua lógica é boa, mas é um pouco falha. Jogos Vorazes não é orginal. Nem Battle Royale, nem essas outras histórias. Aliás, o que eu mostro aqui nesse post (tudo bem, acho que mal), é que o enredo da história é diferente. E isso nos leva novamente para o que eu disse por que é importante essa discussão: Quando enxergamos Jogos Vorazes apenas como a arena, estamos perdendo mais da metade da história. E quais foram os exemplos que você deu? De histórias centradas na arena (só que o conceito dentro da arena muda). Jogos Vorazes tem um conceito extremamente semelhante dentro da arena (que, como eu mostrei no texto acima, é abordado de maneira diferente), só que não é só a arena.

    Eu ainda vou conseguir articular isso melhor agora e em poucas palavras, mas tenta pensar um pouco nisso. Se você vê Jogos Vorazes como uma história dentro da arena, ela é apenas uma cópia mal feita de Battle Royale (que dá um show geral em sua história sobre a arena), mas se você pensa em 1) o significado dessa arena para o mundo e 2) a arena como uma metáfora extremada (ou consequência) do mundo ao redor; você tem muuuito mais coisas. Mas, novamente, essa é a história da Katniss que vive em um mundo onde é "ok" verem crianças se matarem.

    Todo mundo tem o direito de pensar o que quiser. Você pode até dizer que acha estupro um ótimo corretivo para mulheres e eu sou totalmente contra. Agora transformar isso em algo que afeta os outros... Já é mais complicado. E, novamente, o que se ganha desconfiando?

    O americanos são uns caras de pau mesmo, eles fazem isso com muitas coisas não só de origem asiática. (apesar de que eu acho que todo mundo faz) E desconfiar é uma coisa, acreditar (e espalhar isso) tem buscar referências é outra coisa.

    Curiosamente: Além do Stephen King que acho que é inspiração máxima para ele, o Takami fala até de ter copiado uma cena de Exterminador 2 no livro e vou parar por aqui porque eu tive a infelicidade de escrever "The Thing" no google (outro que ele disse que se baseou) E EU TIVE IMAGENS MENTAIS TERRÍVEIS. SOCORRO. POR QUE FAZEM ESSE TIPO DE COISA?????????

    E muito obriga por dividir esses links! É muito legal ter mais informação. E eu vi um (se não coloquei aqui, eu vi um monte de coisas) que é a versão resumida desse sobre a afirmação da Collins. Sabe, até a forma como ela teve a ideia é bem parecida com a dele!

    Mas, novamente, eu não ganho absolutamente nada escolhendo acreditar (isso aqui parece até religião!!! HAUHA) que Jogos Vorazes é baseado em Battle Royale. Não minto: eu gostaria de dar um soro da honestidade pra ela e saber a verdade, por curiosidade. Mas mesmo que fosse o que isso mudaria sobre a história? Nada. Assim como ela descaradamente rouba 300 elementos iguaizinhos de mitos gregos, da História romana (inclusive nomes!) e de 1984; e o Takami rouba elementos do Stephen King, de animes, de um programa que ele assistiu, de outras coisas (ainda estou enjoada com o The Thing, se não tentaria encontrar na entrevista a parte sobre os personagens inspirados em outras histórias) (minha curiosidade venceu: o Shogo é baseado no personagem Hawk de Chance e tem até um diálogo que ele copiou e modificou só pra não ficar igual)m Mas de qualquer forma: O que essas informações comprovadas mudam na história principal? O que mudaria se fosse comprovado que Jogos Vorazes é baseado em Battle Royale?

    Nada. Nem a mentalidade de que copiar é algo ruim e usado como pejorativo. (estou torcendo para estar errada)

    não muda nada.


    (dana aqui, só percebi que tava na conta do CC depois #fail)

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  3. Gostei do texto, muito bom! Ainda não li Battle Royale então não me atrevo a entrar na discussão, mas gosto muito de Jogos Vorazes.

    Até

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  4. Esses anônimos só aparecem para mitar, pqp... Não sei quem é o responsável pelo texto do blog, mas fique claro que argumentação sublime, mas por tal ser tão boa achei impossível houver alguém que refutasse e ocorreu... Cara como existe pessoas boas no que defendem, cheguei aqui aleatoriamente que fique claro abraços pessoal

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  5. Finalmente cheguei, kkkkkk! Depois dessa discussão aí em cima, pelo amor de Deus! Perfect Blue Black Swan tem enredo e cenas iguais? KkKKKKKKKK fala sério! Já BR e diferente de você, eu não gostei. Achei a escrita muito chata, um final muito previsível (e desnecessário) e um bando de personagens ruins, só gostei do Shinji e do Shogo, Shuya é só ok mesmo. Me espanta que o pessoal venha falar de BR como algo muito pesado e violento (tá, nunca leu Branca dos Mortos e os 7 Zumbis,né?) quando teve só uma cena, que foi a da Takako que me espantou. De resto foi normal. O livro tá cheio de momentos "anime" que em um ficam bem, mas num livro ou filme, NÃO! Aliás nem recomendo o filme, é a pior adaptação de um livro que já vi (talvez porque ainda não tenha lido Percy Jackson) além de ter um roteiro péssimo (Já é meio dia. Estão com fome?Façam uma pausa na matança pra almoçar) e muito mal feito. E olha que eu nem gostei muito do primeiro filme de JV, achei fiel mas bem fraco comparado ao livro. Essa comparação entre BR e JV é um saco, mas como hoje em dia a moda é odiar JV, não me espanta não. E o filme Black Swan na verdade foi sim inspirado no Perfect Blue, o diretor já confirmou isso, mas nem vou comentar as semelhanças porque as histórias são muito diferentes, na verdade. Enfim, mais um ótimo post!

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    Respostas
    1. vou ter que concordar em grande parte com seu comentário. às vezes cria uma hype em volta de BR e o pessoal só quer brigar, defender e etc. pra mim, as duas histórias são muito legais e dá pra aproveitar muita coisa. e, mais importante, são diferentes. e acho que essa briga de cópia é muito reflexo de não ter noção de como histórias/arte são criadas.

      já o filme, eu não assisti e não tenho muita vontade não. (de BR)

      muito obrigada pelo comentário :)

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    2. Legal que você amou BR e eu não, e não estamos nos matando por causa disso. Acho você muito inteligente e faz textos muito bons, independente dos gostos temos que respeitar uns aos outros. Concordo totalmente quando você fala a respeito do lance da cópia, resumiu o que há com essas pessoas. De fato é melhor não, acredite se quiser ou não, mas eu cheguei até a rir em alguns momentos! E agora tem gente que compara JV com tudo, até com Crepúsculo e Star Wars.

      Welcome!

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