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Análise: Faking It é uma série muito boa e... talvez muito ruim?
28.4.14Dana Martins
Você já conhece Faking It? Uma nova série da MTV que acabou de sair e já está vencendo o tumblr. Não é difícil imaginar o motivo, é a velha história da garota excluída querendo ser popular com uma reviravolta: ela faz isso fingindo ser lésbica com a melhor amiga. E quando o episódio piloto começa, fica claro que não é apenas isso. Faking It é como se o tumblr virasse uma escola e, é claro, isso inverte o que é considerado popular. Os gays, artistas e feministas estão no topo de popularidade escolar.
Mas... E se tudo der errado?
Antes de começar quero evitar um possível mal entendido: essa é uma análise do piloto da série com base em tudo o que pode dar errado daqui pra frente. Por que eu estou escrevendo isso? Porque eu gostei demais de Faking It e acho que é a primeira série que cria um mundo da perspectiva do "cidadão do tumblr." Como eu posso explicar melhor?
A citação acima é do Carter Convigton, um dos responsáveis por Faking It [fonte]. E acho que a série pode tirar muita coisa boa dessa realidade e é por isso que eles fazerem tudo errado pode ser tão preocupante. Ainda mais se as pessoas tratarem isso como um grande exemplo, tipo o caso de Frozen como símbolo do feminismo.
Mas o que pode dar errado?
Faking It corre o risco de representar o universo do tumblr de maneira falsa, metendo os pés pelas mãos. Em um diálogo, a protagonista explica por que o garoto bonitinho galinha não é qualquer garoto bonitinho galinha, ela diz "Os melhores amigos dele são um gay e uma feminista." Calma aí, ser gay acabou de ser estereotipado? E ser feminista? Mas a pergunta que eu realmente fiz foi: por que ele não é um feminista? E o amigo gay dele não é feminista?
No fim do dia, a história ainda é com protagonistas brancos e lindos. A menina principal não é muito diferente da Lindsay Lohan em Meninas Malvadas querendo ser popular (troque malvada por gay) e que quer ficar com o garoto popular bonitinho. Essa garota poderia até fazer um bico em Gossip Girl e passar despercebida. Enquanto tudo o que representa a diversidade é estereotipado.
Posso citar O Histórico Infame de Frankie Landau-banks? Já estou citando:
"Ela pode, de fato, ficar louca, como acontece com muitas pessoas que quebram as regras. Não aquelas que só posam de rebelde, quando na verdade apenas consolidam suas posições já dominantes na sociedade (...), e sim aquelas que se envolvem em causas maiores para perturbar a ordem social."
O risco de Faking It é justamente posar de uma série dos "excluídos" quando na verdade só estão reafirmando a estrutura social dos populares bonitões vs. os excluídos que ninguém lembra. Só pra dar uma ideia, perturbar a ordem social seria criar uma história onde não há excluídos e populares.
Realmente muda algo quando o "nerd" é quem faz bullying e a "líder de torcida" é quem sofre? |
Faking It ainda é uma série sobre uma garota que não é gay fingindo ser gay só pra ser popular. Isso pode ser algo positivo para refletir, porque existe uma moda de ser gay. Até onde a pessoa vai para conseguir chamar atenção? Aliás, esses dias mesmo vi uma matéria com o título Arthur, transexual de 13 anos: “Acham que só quero chamar atenção” Não pode ser meio problemático colocar alguém fingindo ser gay quando isso é uma das principais coisas ditas para deslegitimar quem se diz gay?
Ou pode ser muito bom, depende de como a série vai mostrar. Essa temática ainda pode servir para lembrar que o problema de uma moda de ser gay não deveria ser gay, mas fingir ser algo que você não é por pressão social. O tempo inteiro você vê pessoas gays (e personagens) se forçando a ter uma relação hétero por pressão social e poucos comentam isso.
Ou seja, essa premissa ainda pode ir para qualquer lugar, tipo a garota descobrindo que é gay e aí plot twist: a história é sobre uma garota gay fingindo que não é.
Ou seja, essa premissa ainda pode ir para qualquer lugar, tipo a garota descobrindo que é gay e aí plot twist: a história é sobre uma garota gay fingindo que não é.
E esse foi só o piloto, que é tipo os 30 segundos da fama para resumir tudo o que vai tratar, então fica complicado ir além de estereótipos. Se Faking It fosse um filme, seria problemático. Mas ainda temos (espero) muita coisa para descobrir e conversar... Até agora só de existir esse piloto já valeu a pena.
Katniss, there's no District Twelve...
Katniss, there's no District Twelve...
E aí ela vira finalmente o mockin gay. |
Só pra completar, achei muito legal da MTV lançar essa série bem agora pra comemorar maio, o mês LGBT aqui no CC. Fique de olho para acompanhar nossos posts, que vão sair nas sextas e, provavelmente, em outros dias também. Nós acabamos listando 24 temas para falar!!! Estamos pensando em joga-los em uma arena e ver qual vai virar post.
-dana martins
Algumas horas depois, no grupo secreto do CC...
Sobre Faking it: li seu post e eu não discordo do que diz (na maior parte dos casos), mas sim da precipitação para escrever ele. Eu não acho que valha a pena falar algo da série antes do terceiro episodio.
Dana Martins:
Isso eu também acho, por isso eu falo no final que é só o piloto. Mas discorda do que na menor parte dos casos?
Diego Matioli:
Sobre a estereotipização dos personagens. É um piloto de uma série teen. É obvio que tem esteriótipos, eles querem mostrar que tipos de personagens vão elencar a série. É uma maneira "padrão" de se introduzir personagens, ainda mais em uma série com uma premissa que tomou tempo considerável pra ser introduzida. Por isso que não dá pra julgar uma série pelo piloto.
Dana Martins:
Só isso?
Diego Matioli:
também discordo sobre perturbar a ordem social. A única pessoa que foi excluída no piloto foi a menina babaca que odiava os diferentes. As protagonistas mesmo, em nenhum momento elas são excluídas pelo resto da escola. Elas querem é chamar atenção, e não necessariamente "serem aceitas". Isso elas são. A série é o conflito contra a ordinariedade, e provavelmente deve se inclinar a uma jornada que mostre que ninguém é ordinário, independente do sexo ou sexualidade.
Dana Martins:
Mais?
Diego Matioli:
E eu não vejo mal na série falar de uma menina fingindo ser gay, especialmente por que a outra menina obviamente está sentindo atração por garotas. O tema não aparece de forma ditatória "para você ser popular, tem de ser gay", mas como veículo para desenvolver outros conceitos. Se as duas estivessem fingindo e fossem loucas por fama, tudo bem, mas ter a menina mais pé no chão deixa claro que a questão não é a sexualidade, mas sim a necessidade de chamar atenção. A cena em que a Karma se finge de cega também serve para pontuar isso.
Dana Martins:
Pode continuar
Diego Matioli:
Só isso mesmo. Sobre a falta de diversidade eu concordo.
Diego Matioli:
É, pensando bem, eu discordei de uns 75% do seu post.
[Dana: e eu concordo 90% com o que o Diego diz aqui, eu apenas discordo com: "a única que foi excluída foi a menina babaca que odiava os diferentes" Porque é exatamente essa a questão: normalmente é uma pessoa babaca que odeia os diferentes sacaneando os diferentes e em Faking It isso é invertido, mas a estrutura de um exclui e o outro é excluído continua a mesma. Mas é só o piloto e mesmo na abordagem dessa estrutura já mostra mudanças admiráveis.]
[essa conversa não terminou aqui, em breve um post sobre o uso de biologia para justificar as diferenças entre homens e mulheres]
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9 comentários
bom, não assisti o piloto porque tudo que ouvi dessa série (e que é confirmado nesse post) é que é sobre duas melhores amigas que fingem um relacionamento para chamar atenção, e sobre isso eu só digo que: geralmente o que acontece é os jovens não-heterossexuais fingindo que são heterossexuais pra evitar bullying, abuso, violência e assassinato. mas enfim né. achei a ideia da série muito muito ruim. só espero que não piore.
ResponderExcluir(eu não entendi o que você quis dizer quando disse que existe uma moda em ser gay??? tipo, ce quis dizer que isso existe dentro desse universo da série ou???)
geralmente, porque é ser heterossexual o padrão, né? e acho que a inversão disso pode ser um modo legal de tratar desse assunto. como assim? mostrando que pela popularidade as pessoas podem até se forçar a passar por outra coisa. as pessoas não-hétero não se passam por hétero porque é legal/certo, mas porque isso é o que dá status ou coisa assim.
ExcluirNesse segundo episódio a série invalidou um dos meus medos: eles estão bem conscientes do quão errado é uma pessoa hétero se passando por uma não-hétero, uma personagem acusa uma delas disso. E, de quebra, eles ainda tratam de perder a virgindade, que é outro problema que os adolescentes passam/fingem por pressão da sociedade.
Mas aí uma coisa interessante (spoiler menor): Isso tudo deixa uma das duas garotas em dúvida. O que faz a série tratar de uma hétero se passando por lésbica e uma lésbica se passando por hétero (que se passa por lésbica)
Até agora tem sido muito bem feita, como entretenimento e questionamento. Ainda corre riscos de estereótipos (o gay afeminado,a lésbica machona), mas assim como eles já reutilizaram o termo "mulher forte" de uma forma mais apropriada (o primeiro uso disso foi o que deu origem a esse texto, aliás), eles ainda podem fazer muito mais.
Não posso afirmar que vai ser ótimo até o fim e que eles não vão estragar tudo na próxima terça, MAS estou mais otimista. Por enquanto essa é uma das melhores séries (ou talvez produto cultural no geral, incluindo filme, livro, videogame, hq) em relação a feminismo e representatividade gay. Não só porque eles trazem personagens que são bem desenvolvidos, mas porque em parte é uma série que abertamente quer desenvolver esses temas.
E mesmo que seja ruim. Acabei de assistir pela segunda vez o segundo episódio para rever umas cenas e pensar tópicos principais, tive que parar em praticamente todas as cenas para anotar algo interessante. Tem muita coisa boa pra fazer a gente pensar e discutir. Isso com dois episódios de 20 minutos cada.
Sobre a moda, serve dentro do universo da série ou qualquer lugar onde ser gay é visto como legal. Não é o sistema de valor comum, mas há, sim, ambientes que tornam ser gay algo favorável e uma forma de se destacar. E "moda" aqui não é algo tipo "algo fútil idiota passageiro", mas sim algo que passa a ser considerado legal entre certas pessoas e que é seguido por pessoas que querem fazer parte desse grupo ou coisa assim (muitas vezes, mesmo que elas não compreendam o que é ou se identifiquem completamente). Tipo ler livros. Não é uma moda geral que você vai ver a sua mãe com jogos vorazes na mão se sentindo super descolada, mas é motivo pra se gabar entre um grupo de pessoas.
Caramba! Não sei se gostei mais do texto ou do debate que se seguiu!
ResponderExcluirParabéns a Dana e ao Diego pelos bons argumentos!
ASSISTI O PILOTO.
ResponderExcluirComo comédia, não me fez rir muito. Como série-trazendo-à-tona-coisas-legais-para-reflexão, achei legal. Primeiro que achei MUITO genial o lance da "inversão" social. "Em qualquer outro lugar do mundo eu governaria vocês!" Hahahahahah "Praticando bullying com gays? Isso é tão anos 90" Hahahahahahahah Achei que essa coisa da escola ser o "mundo virtual" fosse uma coisa mais velada, mas não. É bem na cara mesmo, os personagens sabem disso, a "vilã" quer as tradições de volta e tal. E adorei a parte que jogam "Tradição tipo a escravidão?" Mostrando que nem tudo que "sempre foi assim" é certo/bom.
Minha memória é péssima (socorro, vi ontem), mas sei que tiveram momentos em que disse um "Opa, tem que ver isso aí". Tipo a Karma beijando o menino na frente da Amy e da feminista. Ninguém disse nada? É normal? Meio que reforça a "teoria da infidelidade dos bissexuais"? (Li isso em algum lugar).
E não entendi ainda como o carinha par da Karma é visto. Ele é legal? É um idiota? Ele ainda é um lobisomem de Waverly Place (brincadeira)? Não consegui decifrar o que os produtores querem que pensemos dele.
Ah, e achei meio forçado a Amy ficar "Eu não estou feliz" porque não aconteceu NADA que a fizesse mudar de ideia, que a prejudicasse e tal. Mas isso é roteiro, nada sobre as mensagens passadas.
Verei o próximo ep.
<3 Bem o que você comentou. A parte de comédia não é tipo filme de comédia, mas tem umas tiradas beeem legais? Não é sempre que eu rio de verdade assistindo uma série. Mas agora também já to falando dos 8 episódios, não sei falar só do primeiro.
ExcluirSobre isso você tem razão. Quando eu assisti o piloto fiquei cheia de dúvidas (tem um post aqui sobre isso HUAHUAH) e esse nem foi um dos que eu percebi. Definitivamente reforça a ideia da infidelidade, mas acho que no caso como era só a Amy e a feminista (melhor amiga do Liam), deu pra passar? E a feminista evapora no resto da temporada, então..
Acho que você vai gostar mais ainda do que tem pela frente, principalmente a "vilã"
Já o Liam... eu não sei também. (acho que o lobisomem de Waverly Place?) Eu acho que querem mostrar ele um pouco como uma pessoa envolvida no assunto e, pessoalmente, eu gosto que tenha um personagem como ele, porque ele parece o típico machão/bonito de escola, só que ele ainda é legal (tem amigos gays!) e por outras coisas que acontecem na série. É uma forma de mostrar que você pode ser o pegador sem ser um idiota completo. (e eu poderia falar muito mais)
Mas no geral, o fandom em si expulsaria ele. Essa semana teve uma votação na MTV sobre quem a Karma deveria dar mais importância e ficou 96% pra Amy!!! Eu também acho que eles não sabiam como o público ia aceitar uma série assim - é praticamente centrada em uma amiga que descobre que gosta da outra e é totalmente pró-LGBT+. Então eles meio que precisavam do cara bonitinho para, em último caso, levar esse adiante? Se #karmy não fosse tão popular...
Como assim não? oO Pensa que alguém diz pra escola inteira que você e o seu amigo são um casal. (supondo que você não seja gay) Se do nada alguém diz que eu e uma amiga somos lésbicas pra todo mundo na escola, eu ia falar "wtf! não! tá maluco?" - seria uma reação beem parecida com a da Amy. Ainda mais quando você conhecer a mãe dela e quando a gente descobre que ela gostou do beijo (o fingimento mexia com algo mais profundo?). E repara no início: ela não tá nem um pouco feliz com a Karma se passando de cega, imagina se a Karma quisesse que ela se fingisse de cega também!!!
(agora que eu vi que você comentou nesse post aqui HUAHUAHA então... é esse post aqui que eu faloa cima)
ExcluirSobre o Liam (Vi o 2º ep), ele ainda me parece um "pegador idiota", toda aquele fetiche que não compreendo em ter um caso com uma lésbica, e acho um mistério ele ter ficado amigo do Shane :P
ExcluirMas, gente, como torceriam contra Karma & Amy? Como Liam & Karma conseguiu conquistar esses 4%??? Preciso ver os outros eps.
É que ela (Amy) meio que aceitou o fingimento no início, aí me pareceu que ela mudou de ideia no final do piloto por nenhum motivo aparente. Mas isso são águas passadas.
Isso não é tão fácil as duas se fazendo de lésbicas no início da drama mais pode acontecer que a karma vai se interessar pela sua melhor amiga Amy no próximo temporada e aí vai ter triângulo amoroso com elas e a karma vai perceber que gosta mesmo na Amy e agora que Amy não está de Brigadeira de ser lésbica e se apaixonou pela karma desde que se conlheceu e a karma se apaixonou pelo Lian no início e aí vai complicar ainda mais a situação da karma vai ter coração partido e tem que escolher quem é sua alma gêmeas e com ela vai descobrir por ela mesmo. Karma vai conquistar o coração de Amy no próximo temporada aí vai crescer ainda mais.karma e Amy tem que ficar juntas e elas são tão fofas e se amam muito.ela vai ficar com ciúme da sua melhor amiga Amy e tomara que se declara para Amy.torço por elas duas no faking it. Ela que são alma gêmeas e o amor verdadeiro!
ResponderExcluirÉ, acho que isso vai acontecer mesmo. Pelo menos na preview da próxima temporada. xD E fico feliz em ver que mais gente consegue gostar tanto da história delas. Obrigada pelo seu comentário <3
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