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10 razões para autores homens fazerem mais sucesso do que mulheres

26.2.14Dana Martins


Depois de acompanhar de longe essa polêmica do John Green, foi o comentário da Barbara abaixo no grupo do Nerdfighters Brasil que me jogou de cabeça na discussão e, é claro, eu precisava fazer um post no CC sobre isso. Para começar (ou vocês acham que isso vai caber tudo num post só?) eu decidi fazer um resumão com tudo dito pelo pessoal na conversa do grupo. O resultado foram esses 10 motivos que explicam por que homens são mais valorizados do que as mulheres.



spoiler

Introdução da Barbara Morais no grupo

Nos últimos dias, várias autoras de YA expressaram a insatisfação com a indústria em geral. O problema é um tal de "efeito John Green". Explicando: da lista de bestsellers YA do NYT das últimas semanas, sete dos 10 livros são escritos por homens e, deles, 4 são do John. Das três mulheres da lista, duas tiveram seu sucesso impulsionado por estarem relacionadas ao John - a Rainbow e a Esther. Se você parar para pensar em como existem reclamações de que o YA tem muito mais autorAs e livros com protagonistas femininas, tem alguma coisa MUITO errada que 70% dos livros da lista de mais vendidos sejam de autores masculinos. E tem alguma coisa mais bizarra ainda se você considerar que dessa lista, 60% dos livros são ou tem alguma ligação com o John.

Daí eu achei esse artigo aqui sobre o assunto, que é super interessante e fala sobre como aquele velho problema. Se o livro é escrito por mulher, é considerado em um patamar menor do que um livro escrito por homem pela crítica, etc. E o John Green meio que tornou o YA mais visível com o seu sucesso (merecido), mas as pessoas começaram a associar livros como os do John com sucesso e outros gêneros dentro do YA como literatura frívola feita para adolescentes e donas de casa - e, por um "acaso" do destino, eles são escritos por mulheres, em sua maioria.

Enfim, eu queria saber o que vocês acham disso. Óbvio que a culpa não é do John, como pessoa, mas sim do mercado. Tem alguma coisa que a gente pode fazer para mudar isso?

"Por que autores homens fazem mais sucesso do que mulheres?"

1- Garotos têm vergonha de ler livros "de mulher". 

Basta uma capa feminina ou uma mulher protagonista para afastar o público masculino. Dana (eu!): Aliás, não é por isso que a indústria de videogames passa longe de mulheres protagonistas? Eu me pergunto se "50 Tons de Cinza" fosse rosa purpurinado eu teria visto tantos homens andando com o livro por aí... É engraçado que se você pegar Harry Potter, Crepúsculo, Jogos Vorazes e até Divergente: todos são histórias famosas escritas por mulheres com capas de livros mais neutras. E, sim, isso acontece em mão dupla. Muitas mulheres passam direto por um YA como "Eu sou o Número Quatro" só porque é narrado por um garoto, mesmo que tenha os mesmos conflitos de um YA comum.

As cores são tão importantes que só de deixar preto e branco já muda muita coisa, olha o livro da direita! foto orignal

A autora Maureen Johnson chegou até a propor uma "troca de capas" no twitter depois de tanto receber emails de garotos falando para colocar uma capa que não seja feminina em seus livros para eles poderem ler. (Veja tudo em inglês aqui. - Link compartilhado na conversa pela Lorena Pimentel Villaça)

2- Autores criam personagens sexistas. 

Pelos exemplos dados na conversa, isso vale tanto para autores homens quanto para mulheres e personagens homens e mulheres. Às vezes a mulher é mais complexa, enquanto o homem é idealizado. Às vezes o homem que é mais humanizado, enquanto a mulher não passa de estereótipo.


Acredito que a questão seja: os autores também são pessoas normais que vivem em uma sociedade machista e mesmo quando não têm a intenção acabam reproduzindo estereótipos do gênero. Que tal tratar homens e mulheres como... pessoas?

3- O homem é considerado o padrão nas histórias, enquanto a mulher é o "especial."


Quando a mulher é colocada como importante em uma história, ela está ali para ser a importante. Em todo resto no universo os homens dominam: o padeiro é homem, o escritor de um livro aleatório é homem, os personagens secundários são homens, o segundo em comando da grande vilã é homem. Pense em uma história onde quase todos os principais, os secundários e aquele que passa na rua são mulheres, pode ter uns 3 homens circulando. Mesmo que isso acontecesse, a chance do público masculino ler algo assim é mínima. Enquanto isso, existem muitas histórias só com homens que são consideradas para homens e mulheres.

Esse é um tópico que eu ainda desenvolverei melhor aqui no CC, com análises de "Jogos Vorazes", "The Legend of Korra" e outros.

4- Mulheres são mais criticadas.

Tanto as personagens femininas quanto as autoras mulheres são mais criticadas do que livros de autores homens e personagens homens. Um exemplo é que a maioria dos protagonistas do John Green são extremamente parecidos, mas quase ninguém fala como se isso fosse algo negativo, enquanto vivem reclamando que todas as protagonistas de literatura YA são iguais como um modo de desvalorizar esse tipo de livro.


Aliás, o próprio John Green já comentou sobre essa diferença na forma que criticam livros de homens e livros de mulheres, falando que é como se os homens recebessem um passe das pessoas por seus erros. Ele ainda diz que "O Apanhador no Campo de Centeio" do J. D. Salinger é perturbadoramente misógino e ninguém fala nada. Você pode ver o que ele disse completo aqui. (em inglês - link compartilhado pela Flora Castro na discussão)

5- Chega ao ponto de autoras precisarem esconder que são mulheres. 

J.K. Rowling foi citada como exemplo marcante de autora que precisou esconder seu nome para poder lançar um livro de fantasia. Encontrei até uma lista de autoras que fizeram isso. Aqui eu acrescento que o contrário também acontece: J. Minter é o autor de "Inside Girl" (um "Gossip Girl" para meninas mais novas) e é até difícil você encontrar informações sobre ele. Esse é o tamanho dessa diferenciação literária entre "livros de homem" e "livros de mulher."

6- Diferença no tratamento entre homens e mulheres. 

A falta de igualdade entre homens e mulheres é a razão principal dessa falta de sucesso (e reconhecimento!). Várias das razões citadas aqui se encaixam nisso, mas há tópicos menores citados na conversa do Nerdfighters Brasil que eu decidi reunir aqui: A diferença está em todas as esferas, nas capas de livro, gêneros de livro, sinopses (...); Na forma como livreiros tratam leitores homens e mulheres; A forma como os próprios homens e mulheres vão atrás de livros.

Alguns exemplos: Dizem que J.K. Rowling fez cópia de Senhor dos Anéis, enquanto George R. R. Martin é o próximo J. R. R. Tolkien.



7- A ideia de que só mulheres gostam de romance.

Ultimamente, talvez até por causa da fama negativa de "Crepúsculo", surgiu uma mania de desprezar o romance. "Olha, essa história não tem romance, ela é válida! Pode ser levada a sério!" O romance, aliás, foi o que levou muitos leitores a desvalorizar "Jogos Vorazes" sem nem pensar. Curiosamente, praticamente todas as histórias têm romance. (o que é outro problema a ser pensado) Até se você pegar aquelas declaradamente para o público masculino de videogame, seja Mario ou God of War, elas envolvem a luta por um amor perdido.

Ainda assim, no fim do dia romance é coisa de mulherzinha e histórias focadas nisso são desprezadas.


Aliás, "Sangue Quente" é um grande exemplo de livro que foi vendido de maneira errada.

8- O valor do que a mulher faz é inferior ao do homem.


Nas categorias de Direção, Roteiro Original e Roteiro Adaptado do Oscar 2014 só aparece uma mulher - dividindo um roteiro com um homem. Mesmo as categorias de atrizes mulher são consideradas (veja a ordem!) menos importante do que a dos homens. E se fosse uma só para todo mundo? Qual seria a proporção?

9- O mercado editorial reflete a sociedade machista. 

Uma das conclusões que a gente chega é que o mercado editorial - e a literatura em si! - são só reflexos de um problema maior. Os tópicos do grupo que desenvolvem isso viraram outro post aqui no CC, porque se não isso ia ficar GIGANTE. Só quero acrescentar que é quase uma bola de neve: as pessoas comuns valorizam autores homens/histórias machistas, a mídia legitima depois da fama e valoriza autores homens/histórias machistas, as editoras procuram mais autores homens/histórias machistas, as pessoas procuram autores homens/histórias machista, a mídia...

E é uma bola de neve tão grande que mesmo quando autoras mulheres ficam famosas, elas ainda precisam se esforçar em dobro pra ter o mesmo valor que um homem, ou são renegadas como literatura de segunda categoria.

10- Falta de preocupação geral com esse assunto.

O grupo Nerdfighters Brasil tem 2.520 pessoas, 75 curtiram a discussão (69 mulheres, 6 homens), 297 comentários, 31 participaram da conversa (29 mulheres e 2 homens). É engraçado como isso reflete, de certo modo, as proporções na literatura YA. 


A maioria nem se toca que isso acontece, outros nem se importam e, no geral, é menos que uma mordidinha de formiga no meio de toda confusão da rotina e do "ah, que se dane os outros." Por que não temos mais pessoas falando isso? Por que não temos mais homens falando disso? Por que não temos posts na mídia falando disso, em vez daqueles que tratam o John Green como salvador da literatura YA?

A Barbara perguntou: "Tem alguma coisa que a gente pode fazer para mudar isso?"





Extra! Com essa imagem de fundo porque o nível tá tão bom que foi isso que apareceu quando procurei autor de YA negro no google. 

Para saber sobre "CHEGA PELO AMOR DE DEUS", a nova obra do Nicholas Sparks, e outras coisas que rolaram na conversa do Nerdfighters Brasil, clique aqui.

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40 comentários

  1. Olá, vi sobre a história do John Green hoje.
    Infelizmente, até na literatura, a mulher é menos valorizada que o homem.
    O que podemos fazer? Posso começar por mim mesma, já não costuma dizer "livro para mulheres" por achar que livro é livro, agora vou abolir isso de vez.
    Gostei bastante do post e concordo com a maioria das opiniões.

    petalasdeliberdade.blogspot.com

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    1. Linquei e usei algumas imagens desse post em um post meu, espero que você não se importe.

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    2. Claro que não me importo! Dar a fonte é uma coisa, roubar é outra. O importante é continuar compartilhando esse tipo de informação (:

      DFTBA

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  2. Ótimo post, ótimo tema. Como em muitos outros domínios da vida, ainda temos que andar um bocado até o mundo superar esse negócio de sexismo. Já houve muita evolução, mas ainda há muito para acontecer. No entanto, é interessante ver cada vez mais escritoras tendo êxito, ganhando a atenção do grande público. Um dia chegamos lá...

    Um beijo, Livro Lab

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  3. Ai, que post mais lindo. Essa foi uma das discussões mais legais das quais participei na vida e estou feliz em vê-la aqui. :) Eu gostei excepcionalmente da sua consideração na "parte final" hahaha
    É uma realidade, sabe? Eu ainda estou no ensino médio (último ano, mas ainda assim...) e os meus colegas simplesmente não leem. Eu ainda consegui influenciar um grupo pequeno, mas é, eles não leem. E desde que comecei a ler sobre feminismo, eu tenho notado o machismo nas pequenas coisas (slutshaming, por exemplo) e percebi que mesmo as meninas mais fortes e notáveis do meu colégio SÃO vítimas do patriarcado. E eu pensava, antigamente, no auge da ingenuidade adolescente: "ah, mas eles só fazem isso porque não leem, não procuram conhecimento, ficam perdidos no próprio mundinho." O John Green Effect foi um tapa na minha cara, porque dizia, basicamente: "toma! Vc acha que tem alguma área onde você possa fugir da dominância masculina?! Mulherzinha!", e isso me deixou MUITO triste, porque todos somos vítimas do machismo, sabe? E todos somos vítimas do machismo O TEMPO TODO em TODO LUGAR. As pessoas fecham os olhos pra isso e ficam feliz em deixar pra lá, porque acham bobagem. Mas você consegue imaginar um mundo sem o slutshaming? Tipo, QUANTOS problemas nós não eliminaríamos com essa "bobagem"?
    Eu acho que o que a gente pode fazer pra mudar isso é mobilizar as pessoas, mesmo. Deixá-las sabendo o que está acontecendo. É uma caminhada MUITO LONGA, e é bem provável que eu não viva pra ver esse patriarcado imposto também sobre a literatura ir embora, mas... well, é uma coisa pela qual vale a pena lutar.
    Novamente, post lindo!

    Sarah
    http://atecasarsarah.blogspot.com.br/

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  4. Foi a discussão mais linda desse ano <3

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  5. Infelizmente vivemos em uma sociedade misógina e que ignora que é assim. fechamos os olhos, homens e mulheres, para os fatos e vamos levando a vida com a barriga.
    Eu não sou fã do John Green, li a grande maioria de seus livros lançados no Brasil (exceto Cidades de Papel) e o acho fraco como escritor. Me parece o típico escritor que daqui a 100 anos ninguém lembrará, mas é interessante observar seu efeito nesse momento.

    A discussão "livros para meninas e para meninos" é algo antigo e nós mulheres temos uma parcela de culpa, por temos a tendência de achar que se um livro é bom ele tem que ter sido escrito por um homem.

    Jane Austen (hoje leitura obrigatória nas escolas britânicas) sofreu acusação de não fazer literatura séria (até de outras escritoras como Charlotte Brontë) e sim de mulherzinha, mas o tempo mostrou que seus livros são excelentes para compreender os modos e costumes do séc. XXVIII. Mas quando vamos a livraria atrás de um livro de Austen não estamos buscando um livro que defende uma educação racional para a mulher, mas sim um romance fofo. O Nosso olhar senhoras, precisa mudar.

    Como inúmeras brasileiras fui criada por uma mulher sendo a cabeça da família, mas mesmo assim vejo que minha educação e a que o meu irmão recebeu são bastante distintas. Tive que aprender a cozinhas, lavar, passar, meu irmão não. Ao mesmo tempo nunca fui impedida de brincar de bola, soltar pipa ou jogar videogame, pois sou "tão capaz de fazer algo assim quanto um garoto" (minha mãe me disse isso diversas vezes). Por um lado minha mãe é machista, por outro é feminista. E como ela muitas de nós. A briga contra o patriarcado não é apenas sobre mudar a visão dos homens de nós; é mudar a visão das mulheres sobre SER MULHER e do homem sobre O QUE É SER HOMEM.

    E para finalizar (esse comentário está enormeee) divulgo uma triste notícia: Das 10 melhores estrelas de cinema mais bem pagos de Hollywood apenas uma é mulher: Angelina Jolie. Da mesma forma como é triste que Aline Prado seja a 6ª negra a estampar a capa da Playboy, uma revista que tem quase 40 anos de existência, mas essa é uma discussão para outro momento.

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  6. Eu acho que um dos problemas está na identificação com os personagens. Quer dizer, o que faz a gente seguir com a leitura? O que faz um livro tocar nossos corações? É a identificação. O que ocorre, é que mulheres querem se sentir mulheres, por isso procuram protagonistas desse sexo. E o mesmo ocorre com os homens. Se um livro é narrado por um garoto, uma garota vai automaticamente rejeitar, pois ela quer se sentir a mocinha, e os sentimentos do mocinho não importam. Tipo como se o leitor quisesse tomar o lugar do personagem. O que em certos casos, acho uma bobeira, já que a graça do livro é justamente ser quem você quiser, em qualquer lugar. Mas confesso que já deixei SIM de ler determinado livro, porque a visão de determinado personagem simplesmente não me interessava.

    Claro, que existem livros, histórias sobre pessoas e povos, que não precisamos nos identificar para nos emocionar, pois basta ser humano. Mas estamos falando desse tipo de livro.
    Concordo plenamente que as criticas devem ser tratadas com igualdades, pois qualquer sexo é capaz de escrever obras magnificas e marcantes.

    Mas quanto ao romance, acho que a maioria dos homens não gosta e não se dá ao trabalho de ler, porque os romances YA são em sua maior parte extremamente açucarados. E digo isso como mulher, pois a mim já incomoda bastante. Vamos usar como exemplo essa leva de livros eróticos: todos tem basicamente o MESMO plot. E posso dizer porque comecei e larguei vários deles. São coisas repetitivas, vazias e melosas.
    A mesma coisa ocorre com dezenas de outros romances. E convenhamos que a maioria (não estou dizendo todos) dos homens odeia coisa melosa. E várias mulheres também (como eu) embora, elas sejam a minoria.
    Acho que tudo vai da mídia, e do mercado que explora o gosto do público. É uma bosta, mas tá fazendo sucesso? Então vamos massificar e esgotar o assunto. E a coisa toda acaba virando pop.

    Obs: acho o Nicholas Sparks tão irritante quanto qualquer outra autora de romance meloso.
    E uma pergunta: O próprio John Green não cria personagens irreais? O Augustus por exemplo, qual a chance de encontrar um rapaz assim na vida real? Ele não é idealizado em várias formas? Porque atualmente eu tenho visto meninas desejarem um Gus tanto quanto um Edward. E outra: os livros dele não caíram no lugar comum da literatura pop/comercial/capitalista?
    Agora, vocês querem saber porque ninguém diz isso e aponta os erros dele? Porque atualmente, estamos cada vez mais sem opinião.
    Por exemplo: Se você vê um rapaz bonito negro e diz que ele não te atrai, está sendo preconceituoso. Se você vê um gay e diz que não gosta da personalidade dele, você está sendo homofóbico.
    Entenderam o ponto? As pessoas simplesmente não compreendem, que existem outras qualidades além da opção sexual e cor da pele, que nos fazem gostar ou não de determinada pessoa.
    E isso está ocorrendo com os livros. Atreva-se a dizer que não gostou de A Culpa é das Estrelas, pra ver como as pessoas vão praticamente te apedrejar.

    Pois é sociedade, TODOS nós buscamos a perfeição. A diferença, é que a perfeição pra mim, pode ser o pesadelo de outro.

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  7. Nunca pensei em escolher um livro baseado no gênero do autor(autora). Se eu quiser ler Dostoievski ao invés de J.K.Rowling me parece ser pelo valor literário do primeiro, embora o segundo tenha um respaldo maior no mercado, mesmo sendo escrito por uma mulher.

    Os autores muitas vezes publicam com base em NICHOS DE MERCADO, ou seja, percentual significativo de mulheres escrevem para o público feminino. Já homens(sem generalizações, mas de uma maneira geral) atingem todos os públicos (livros para mulheres, crianlas'fábulas', homens, históricos, etc).

    E geralmente homens têm uma história literária mais antiga que as mulheres. O conhecimento escrito era privilégio de POUCOS homens. Portanto Homero não era Homera, todos os grandes autores Antigos eram homens e esses autores sem dúvida serão mais respeitados que Agatha Christie, embora ela tenha um número grande de leitores.

    Se eu puder confirmar por fonte o que vou dizer, até posto algum link depois, mas homens estão mais dispostos a tomar mais riscos, possivelmente uma característica biológica. O mesmo vale para autores, portanto, ao passo que um número grande se destaca em vários segmentos literários, a maioria fracassa e nunca ouvimos falar deles.


    Enfim, discordo do artigo.

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    1. "Homens estão mais dispostos a tomar mais riscos, possivelmente uma característica biológica. O mesmo vale para autores (...)". Ah, mas não vale MESMO, e a quantidade de machismo velado no seu comentário é too damn high.

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    2. Concordo e discordo ao mesmo tempo. Acho que não existem livros antigos escritos por mulheres porque não dado esse direito a elas. Suas opiniões não eram relevantes e muitas (porém não todas) sequer tinham educação. Mas é aquilo, uma mente inteligente sempre será uma mente inteligente, e ela pode muito bem correr atrás do saber, nem que fosse escondido, o que não foi o caso em várias épocas (como na época grega, o ápice da filosofia e matemática).

      Mas ao mesmo tempo, não sei porque não eram usados pseudônimos masculinos por elas, como várias romancistas clássicas fizeram. O que vou falar é polêmico, mas acho que nós mulheres, também temos nossa parcela de culpa pelo machismo. Afinal, quem cria os homens? Nós. Os pais mesmos deixavam claro que a educação era uma tarefa doméstica feminina. Pois se você cria seu filho com a visão correta de igualdade, ele será um homem livre de preconceito. Culpar totalmente os homens é culpar o sexo, e isso é uma forma de preconceito, pois ninguém nasce sabendo. Somo educados e moldados pela vida para nos tornarmos assim.

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    3. Murilo, eu concordo com você. Aliás, tudo o que você citou está certo e concordo com eles. Eu só não vejo como isso é base para discordar do artigo.

      O que foi dito aqui foram as razões que causam o que você citou. Você mesmo disse que o conhecimento era um privilégio para POUCOS homens. O que é não só machismo, como uma distinção por status social e, não duvido que tenha ocorrido na época, racial. E, não sei você, mas eu acho muito errado negar a chance de conhecimento só por causa do sexo, da cor, da conta bancária ou até da cultura em que nasceu. E nada disso indica que, biologicamente, uma mulher é menos capaz do que o homem. Isso é uma prova de uma sociedade desigual que levou os homens a terem chance e causou, como efeito, a sensação de que no passado só homens foram grandes escritores.

      E isso não justifica alguém ler, hoje, um livro bom escrito por uma autora mulher (seja de hoje ou 100 anos atrás) e respeitar menos - só porque é mulher. Isso acontece. Muito. E, até como o John Green fala na razão 4, as pessoas exigem muito mais de uma mulher escritora do que a de um homem (e até de uma literatura popular do que a de uma literatura considerada de alto nível). Não que não tenha que ser bom, mas elas simplesmente encontram problemas nesses e deixam passar os mesmos problemas em histórias escritas por homem ou em "alta literatura" Por que existe esse privilégio?

      Eu poderia falar mais, mas se você ler bem o post, vai ver que ele responde tudo o que você disse. Fala até muito bem sobre essa diferença de que o homem publica para o público geral, enquanto a mulher escreve para mulher.

      E eu também não tenho o link, mas já vi essa pesquisa. Sim, os homens tomam mais riscos - e é até uma característica biológica. E eu poderia fazer um post inteiro extra só pra explicar isso. MAS, por aqui, eu só digo para tomar cuidado com essas conclusões. É esse tipo de lógica que reafirma a ideia de que negros foram feitos para o trabalho braçal só porque aguentam melhor o sol. Aliás, se for por isso, dá até pra dizer que negros, ou asiáticos, ou gays ou qualquer grupo excluído do padrão valem menos do que o padrão (homem, europeu, branco, heterossexual), só porque nós não temos uma cultura de valorizar o que eles fazem.

      Obrigada pela sua opinião, é muito importante ver outros pontos de vista e, mais ainda, ver que existe outras pessoas interessadas no assunto. (:

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    4. Sabe o mérito duma boa discussão? Aquele toque mágico de ponderar em cima de alguma coisa que "tu" mesmo ou alguém escreve surgindo aquela ideia de que aquilo que se escreve realmente tem lacunas, evidente quando alguém expõe pra ti. Enfim, mais ou menos isso que REssurgiu essa questão. Pois então, tinha essa sensação agora, aliás, sou grato por isso.

      Vou ler de novo o post, teu comentário e o meu e pensar muito mais sobre esse assunto. Provavelmente estou errado em discordar completamente, conforme disse na primeira postagem, na verdade os aspectos causais talvez não tenha no artigo, ou é muito maior do que ousei perceber.

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    5. Só queria deixar esse video aqui porque fala uma mensagem importante: https://www.youtube.com/watch?v=U7ziyJobvgI

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  8. *porque não foi
    *somos
    Pequenos erros de português hahahaha

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  9. Culpar os leitores por não lerem tal livro é como uma empresa que culpa o consumidor por não comprar seus produtos. "Você precisa comprar meu cereal matinal! Mesmo que não goste do sabor. Não acredite em suas papilas gustativas, o fato de não gostar é porque você é PRECONCEITUOSO".

    Livros, video-games, filmes e novelas são PRODUTOS. Se quer leitores/consumidores você tem que escrever o que o leitor/telespectador QUER ler/ver/jogar, e coisas/personagens com que ele se IDENTIFICA ou tem INTERESSE. E do jeito que ele gosta. Senão ele não compra ou consome. Simples assim.

    "Tem alguma coisa que a gente pode fazer para mudar isso?"

    1) Parem de tentar IMPOR o que o leitor TEM QUE GOSTAR. Ele gosta do que ele quiser e consome o que ele quiser. O dinheiro e o tempo são dele. Se um escritor x esta VENDENDO mais livros que uma escritor y num determinado nicho é porque ele está dando aos leitores dele algo que o escritor y não dá.

    2) Se quer determinado publico lendo, IDENTIFIQUE o que esse publico gosta: Assunto, tipo de enredo, forma de escrever ( mais intimista, mais descritiva) e dê o que ele quer. Empresas gastam milhões pra identificar padrões de consumo de diversos grupos (homens, mulheres, conservadores, liberais, classe alta, baixa, muita escolaridade, pouca, Jovens e idosos, nascidos no norte ou no sul) justamente porque elas compreendem que as pessoas SÃO DIFERENTES e tem gostos diferentes. A empresa se adequa ao consumidor e não o contrario. Descobrir que alguns grupos tem padroes especificos de compra é a chave do sucesso.






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    1. Ninguém está tentando impor nada. E nem estamos falando de gostar ou não gostar, porque há livros escritores por mulheres que MUITA gente gosta e se identifica (de Jogos Vorazes, passando por 50 Tons de Cinza, até Crepúsculo e Harry Potter). Aliás, até a Esther e a Rainbow que estão na lista de mais vendidos - elas estão lá porque as pessoas estão GOSTANDO e querendo ler. O problema aparece quando a mídia vende que as pessoas estão gostando da Rainbow, só por causa do John Green. Ou quando as pessoas desvalorizam os livros da Suzanne Collins, só porque foi uma mulher que escreveu. Ou quando a JK Rowling não tem a validação do George R R Martin, porque é uma mulher.

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    2. -------------------------------------------------------------
      Ninguém está tentando impor nada. E nem estamos falando de gostar ou não gostar, porque há livros escritores por mulheres que MUITA gente gosta e se identifica (de Jogos Vorazes, passando por 50 Tons de Cinza, até Crepúsculo e Harry Potter).
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      Sim estão.

      Todo o texto é uma imensa lamentação culpando todo mundo pelo fato de que entre a lista de BESTSELLERS YA do NYT das últimas semanas, sete dos 10 livros são escritos por homens e, deles, 4 são do John”, e termina com “ Tem alguma coisa que a gente pode fazer para mudar isso?”.

      Obviamente no alto da arrogância de quem escreveu o texto, os leitores que COMPRAM os livros estão ERRADOS. Eles DEVERIAM comprar mais livros escritos por MULHERES. O fato dos leitores terem liberdade pra usar o DINHEIRO e o TEMPO para lerem os livros que ELES querem ler ao invés de ler os livros que VOCÊS querem que eles lêem aparentemente é um problema para vocês.

      Não entendem (ou fingem não entender) que o mercado editorial é um NEGÓCIO.
      Quem quer vender livros tem que fazer livros que as pessoas querem ler, tem que fazer uma boa campanha de marketing e tentar ter o “endosso” do maior número possível de famosos do setor.

      Se você não está vendendo, você não está “entregando” nada que os leitores querem. Qualquer outra explicação, além dessa obviedade, é desculpa esfarrapada. Publico do funk não vai ouvir gospel, e publico do golpel não vai ouvir heavy metal, por mais que se ache que “seu” estilo seja melhor.
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      Aliás, até a Esther e a Rainbow que estão na lista de mais vendidos - elas estão lá porque as pessoas estão GOSTANDO e querendo ler. O problema aparece quando a mídia vende que as pessoas estão gostando da Rainbow, só por causa do John Green.
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      Paranoia sua, ninguém falou que os livros de Esther e Rainbow vendem SÓ por causa do John Green, eles vendem porque são bons. Mas negar que ter um escritor/escritora famoso apadrinhando e divulgando seu trabalho trás mais repercussão, mídia e interesse do que começar do zero é fugir da realidade.

      Qualquer ser humano com uma frase na contracapa como “gostei muito do livro” escrito pela J.K Rowling já vai ter muito mais mídia, contatos e acesso aos grandes mercados editoriais do que se fosse um mero mortal batalhando a vida para fazer contatos com editoras.

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      Ou quando as pessoas desvalorizam os livros da Suzanne Collins, só porque foi uma mulher que escreveu. Ou quando a JK Rowling não tem a validação do George R R Martin, porque é uma mulher.
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      Dã, não sei que pseudo validação você se refere, por favor coloque as fontes. JK Rowling e George R R Martin tem públicos diferentes e estilos diferentes, quem gosta do estilo de um não precisa gostar do estilo de outro. Alias, as maiores criticas do Harry Potter são dos Fans do Crepusculo, e vice versa.

      Todos os escritores tem críticos e admiradores, mas você parece que escuta só as criticas aos autores que quer defender e os elogios aos autores que você acha que são “protegidos”.
      Parece torcedor de futebol que diz que “a mídia sempre persegue o meu time e elogia o rival”. TODO torcedor de futebol tem essa mesma ladainha. Obviamente não dá pra dar muita atenção pra torcedor de futebol já que ele é PASSIONAL e TENDENCIOSO (o que é normal, já que ele “torce” pra um time). Mas não quer dizer que esse ego trip paranoico é algo que deve ser levado a sério.

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    3. Gente, pra que tanta briga. Toma um suco, esfria a cabeça. Depois dá uma relida e vê os links pra entender o contexto. Você é uma pessoa esperta, vai entender.

      Toma aqui um florzinha pra você. http://www.lumixgexperience.panasonic.co.uk/wp-content/uploads/gallery/Mairi/white-flower.jpg

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    4. 1 - Em nenhum momento do texto se culpa o gosto dos leitores. Esse gosto foi QUESTIONADO, no sentido de convida-los a refletir a respeito da sua origem. Eles gostam mais de livros escritos por homens por que são melhores escritos? Por questão de gosto pessoal? Ou por que livros de homens são descritos como "YA contemporâneo" enquanto os de mulheres são "chick lit" ou "livro de mulherzinha"? O texto inclusive aponta dedos em todas as direções. A culpa é de autores que fazem personagens machistas (item 2), o mercado editorial é machista (item 9). O problema não é só dos leitores, é de todo o sistema. Eu aposto que você já deixou de ler um livro por que viu a capa rosa. Você nem leu a sinopse, você nem viu do que se trata, mas seu cérebro registrou automaticamente "livro de mulherzinha" e você foi para a próxima estante. Tem um ditado que diz "Não julgue um livro pela capa", mas ele não é posto em prática nessas horas.

      2 - O problema nunca será você gostar mais de livros escritos por homens do que por mulheres. O problema é como as mulheres na literatura são tratadas. YA's existem a décadas, mas precisa vir um homem para "sustentar" o gênero, como se ele tivesse sido irrelevante até então. A mídia brada que Rainbow Rowell deslanchou por causa de John Green, sendo que o próprio já apontou o fato de que já recomendou livros escritos por homens, e absolutamente ninguém atribuiu o sucesso destes livros a sua recomendação. Por que é que mulheres precisam de um "selo de aprovação masculino" para poderem ser levadas a sério?

      3 - Se você não acha que há um problema, tudo bem. Na minha opinião, você está sendo machista e isso é algo que me desagrada muito, mas não é como se ninguém aqui fosse tentar esmurrar suas opiniões para fora do seu cérebro pela tela do computador. Só que existe uma frase que eu gosto muito, e que é uma verdade absoluta: "eu não dou minha opinião para mudar a dos outros, mas para mostrar àqueles que compartilham dela que eles não estão sozinhos". Se você não acha que isso é um problema, ótimo. Existem pessoas que querem questionar e transformar o mercado editorial preconceituoso. Existem pessoas que querem questionar os próprios hábitos de leitura e ler mais livros escritos por mulheres por reconhecerem que, por uma condição social, eles não tem igual alcance dos livros escritos por homens, mas tem igual potencial de qualidade. Existem pessoas que sabem como dar privilégios a alguns autores e não a outros é errado. E que isso independente de "ser um negócio" ou não. Um livro não vende só por que é bom. Vende por que tem propaganda, por que o autor tem uma fanbase (caso do John Green, com os Vlogbrothers), por que fala de um tema que está na moda, por N motivos diferentes. Privilegiar autores masculinos com a desculpa de que "negócios são negócios" é o mesmo que ser a favor da escravidão por que os negros eram a fonte de mão de obra principal dos cafezais. É um argumento que não justifica o preconceito e a injustiça cometidos.

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  10. Nossa, Dana, melhor post!
    Então, acho que um dos "trunfos" do Green (já que ele foi o catalisador do assunto do post) são as histórias sobre dramas reais, longe de ação ou fantasia. Afinal, muita gente, especialmente quem não é habituado à leitura, não gosta de ler histórias muito fantasiosas e prefere deixar isso pro cinema. Ou nem pro cinema, se a pessoa tiver vontade de perder ótimas histórias o tempo inteiro. Enfim, aí essas pessoas indicam pros amiguinhos e o livro acaba nos mais vendidos.
    Outro que faz algo nessa linha é o Sparks, mas as histórias dele são mais (excessivamente) melosas e direcionadas ao público feminino e entupidas de romance, coisa que eu não gosto, enquanto a narrativa do Green é mais leve e propensa a atrair qualquer tipo de público. Foi a minha impressão. Isso sem mencionar as capas. Pega a de Looking for Alaska da Speak e compara com qualquer edição brasileira do Sparks. Já parece bem mais universal. A gente sabe como livro se vende pela capa. Olha Crepúsculo, que não é lá dos melhores, mas tem uma capa fantástica. Olha 50 Tons, como já foi citado. Eu que conheço o conteúdo não quero ler, mas o pai de uma amiga já comprou pela capa, achando que era sobre negócios.
    Mas, ainda nesse estilo do Sparks, do Green etc, acredito que haja várias autoras capazes de fazer a mesma coisa ou melhor. Não aparecem por vários dos motivos que você falou ali. No meu caso, quatro livros que não façam parte de séries realmente me emocionaram na vida (ou três e uma graphic novel): Perks, 13 Reasons Why, Onde Terminam os Arco-Íris e Daytripper. Só comparando as capas já é possível identificar qual foi escrito por uma mulher. Por mais realista que seja a retratação dos dois sexos na leitura, o livro é vendido como se fosse exclusivamente pra mulheres, só porque foi escrito por uma.
    Concluindo essa parte: na minha opinião, o maior problema é realmente o 1. Mesmo que a história e a forma de contá-la agradem a qualquer público, os livros escritos por mulheres são vendidos como se seu público fosse exclusivamente feminino. Capinha rosa, coraçãozinho, foto de mulher na capa, um subtítulo merda, o fato de incluírem amor/coração em tudo nos títulos traduzidos... especialmente em YA. É triste! Se EU, mulher, tenho vergonha de andar com alguns deles por aí, imagina homens, que são mais frescos.
    PORÉM, uma coisa que me incomodava muito muito MUITO quando comecei a ler YA era o 2-3. Eu fugia de boa parte da chick-lit porque era quase sempre a mesma coisa e não me identificava. Uma protagonista whining sobre tudo na vida durante quatrocentas páginas, até encontrar o amor da vida dela e ser feliz para sempre a partir da página 401. Ah, pára, né. Nem toda mulher é assim. Por que os livros deveriam ser? Até os personagens masculinos eram uma generalização chata: ou muito meloso ou muito babaca. Com exceções, tipo as séries mais adultas da Meg, em que eles eram os melhores personagens.
    O 7 também é um bom (e complicado) ponto. Todo mundo gosta de uma história que tenha romance, desde que ele não ocupe os pensamentos dx protagonistx o tempo inteiro mesmo em um apocalipse zumbi. Isso só funciona em Zombieland porque é muito bem feito e não exagerado. The Hunger Games é outro exemplo perfeito. O primeiro livro "força" mais porque a intenção é essa, forçar a imagem para a audiência dos jogos. Os dois seguintes mantêm um bom equilíbrio. Ela pensa no assunto, se força a tomar uma decisão, mas sua prioridade sempre foi a sobrevivência.
    O mercado editorial quer fazer essa divisão de público em "caixas", "de homem", "de mulher"... e consegue. Tanto que os que se destacam em listas de mais vendidos são geralmente os que ultrapassam essas divisões e, tanto pelo conteúdo como pelo jeito que são vendidos, apelam aos dois públicos: Harry Potter, Percy Jackson, Hunger Games, agora os do Green. (observação da chata aqui: quantos desses mantiveram as capas neutras originais? Pois é.)
    Não sei nem se falei tudo que queria falar ou me enrolei, mas qualquer coisa continuo na discussão hahahahahah

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    1. Falou apenas verdades! E eu percebi muito isso do John Green e de histórias fantasiosas. Eu emprestei ACEDE pra trilhões de pessoas e todas elas, por vontade própria, compraram os outros do John Green. Aconteceu até com Nada Dramática e A Ilha dos Dissidentes, o primeiro é muito mais fácil indicar pra pessoas aleatórias porque é realista.

      E uma coisa que eu não coloquei no post, mas que eu percebi lendo toda a discussão: acho que a maioria das escritoras de YA são mulheres, simplesmente porque quando homem escreve não é considerado YA, vira fantasia, ficção científica, até forçam o infanto-juvenil ou pulam para o adulto ou simplesmente não dizem nada. Até nos livros de distopia, que são os que mais funcionam com homens e mulheres, existe um espécie de vácuo entre autores homens e autoras mulheres. (e muitos homens são treinados a escrever na faixa até 15 anos, infanto-juvenil)

      Outra coisa que eu descobri também é um problema na forma que a gente analisa o romance. Eu sempre pensei tipo "YA é cheio de romance, mas, sinceramente, não existe em nenhum outro tipo de livro um romance tão significativo e complexo como nesses", mas toda essa discussão me deu uma noção melhor do que está acontecendo. Quando eu conseguir articular melhor, com certeza farei um post aqui sobre isso.

      Se alguém ver isso e ficar curioso, dá pra adiantar lendo esse post sobre triângulos amorsos:
      http://www.conversacult.com.br/2011/12/discussao-triangulos-amorosos.html

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    2. "E uma coisa que eu não coloquei no post, mas que eu percebi lendo toda a discussão: acho que a maioria das escritoras de YA são mulheres, simplesmente porque quando homem escreve não é considerado YA, vira fantasia, ficção científica, até forçam o infanto-juvenil ou pulam para o adulto ou simplesmente não dizem nada."
      Eu ia falar sobre isso, mas achei que estivesse viajando! Quem produz e lê mais YA é mulher. Pelo menos foi o que percebi entre meus amigos no colégio, que as meninas sempre leram mais, e, com algumas exceções, ainda percebo hoje. Talvez por isso, os livros que entram nessa categoria acabam até feitos/vendidos como se fossem só pra elas (nós). Mas alguns vendidos como "de adulto" (ou tidos como, mesmo que não sejam) apelam aos dois públicos, da mesma faixa etária que os "YA de mulherzinha", e a única diferença é que o autor é homem.
      Aliás, vi em algum lugar esses dias que alguns dos melhores autores, tanto mulheres quanto homens, estavam escrevendo YA. Não consigo achar agora (só na descrição do "gênero" no Goodreads: "YA often gets a bad rap for being of less literary quality than adult literary fiction. Anyone who's read widely in YA knows that's simply not the case. Some of the best authors in the world are choosing to write in YA for a reason."), mas tem essa curtinha do Times que é tão boa quanto http://www.nytimes.com/roomfordebate/2012/03/28/the-power-of-young-adult-fiction/when-authors-take-risks-thats-not-kid-stuff
      Não sei se entra na nossa discussão, mas, pelos exemplos que ela dá, pode. Aquele "u write pretty good violence for a girl" é onde fica bem clara a diferença. E A Menina Que Roubava Livros não foi vendido como YA aqui né? Não tive essa impressão na época que saiu.

      PS: ADORO esse post. [fico só acompanhando calada os posts, a vida toda] Nem sempre gosto da presença dos triângulos nas histórias, mas em alguns casos é interessante. TVD e Matched <3 Aliás, o de Matched ganha uma perspectiva bem melhor nos dois livros seguintes, não forçada como vemos muito por aí.

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    3. Sobre o que você disse do mercado, que gosta de rotular as coisas "de homem" e "de mulher", concordo plenamente. Um exemplo (bem bobo, mas significativo) disso é:

      Harry Potter = Personagem principal = Um garoto = capa de revistas de videogame e daquelas "Recreio", que eram direcionadas para meninos.

      Crepúsculo, Jogos Vorazes = Personagem principal = Uma garota = capa de revistas adolescentes, do tipo "Todateen" ou "Capricho", que são voltadas ao público feminino.

      Super-heróis da Marvel e DC = Coisa de menino;
      Barbie = Coisa de menina;

      Carrinhos Hot wheels = Coisa de menino;
      Pôneis coloridos = Coisa de menina;

      E POR AÍ VAI...

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    4. Nossa, essa do Harry Potter vs. Crepúsculo/Jogos Vorazes foi ótimo! Muito obrigada por compartilhar esses exemplos <3

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  11. Olá!
    Achei esse post excelente! Mesmo.
    Eu não conhecia o CC antes. Esse é meu primeiro acesso e já posso ter certeza que de forma alguma será o último. O site é muito bom.

    Dando uma olhada nos comentários anteriores neste post aqui, percebi que umas 7 ou 8 garotas comentaram e apenas 1 homem. E este, "filha-da-putadamente" (desculpe, não consegui um bom adjetivo, então inventei este) foi contra a publicação, dizendo um monte de coisas que considerei sem sentido.

    Concordo completamente com a Dana e devo acrescentar que, como leitor, acabo me sentindo incomodado com esses estereótipos. É horrível entrar numa livraria e sentir que as prateleiras de YA não são para mim. As capas, os títulos, são todos desenvolvidos quase que exclusivamente para as garotas, enquanto que a literatura nem sempre é assim.

    Há um tempo atrás, comprei O Filme da Minha Vida (ou algo assim). Naquele dia, eu estava andando com o livro recém-adquirido e com A Probabilidade Estatística do Amor à Primeira Vista, da Jennifer E. Smith, e encontrei com um amigo. Ele me perguntou se eu tinha comprado ambos para minha namorada, e NÃO, não eram ambos para ela. O primeiro, sim, mas era EU quem estava lendo o segundo. E é um bom livro! Independentemente da capa feminina, o conteúdo é incrível para qualquer um.

    Em suma, creio que é a forma de distribuição que permitiu ao Jonh Green vender tanto, e não apenas o fato dele ser um homem. Em outras palavras, algumas autoras estão apenas fazendo o seu trabalho, enquanto que o sistema as rotulam indevidamente, gerando todo esse problema.

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    1. Luan, seu lindo! eu já vi que você tem conversado com a Igra, então já está em casa. (:

      Essa sua história me fez lembrar de quando eu era pequena. Sem brincadeira, desde muuuito novinha, tipo 3 anos, eu já brincava de boneco (e de barbie!). Mas aí depois de uns 8 anos eu aprendi mais as ~divisões~ de gênero e morria de vergonha de pedir pra comprar boneco na loja. Isso nunca me impediu, eu lembro disso justamente porque eu falava que era pra fingir que tava comprando pra alguém, mas minha mãe sempre estragava meus planos com um É ESSE QUE VOCÊ QUER na frente de todo mundo me matando de vergonha. HAUHUAHAUHA Mas to dizendo isso porque o mesmo se repete com livros. Se a pessoa tem pais mais sexistas, ou que gostam de impor mais, ou tem menos coragem, ou (insira aqui um milhão de coisas), ela deixa de comprar por causa do estigma de ~é de menina/menino~

      Meu pai mesmo, assistiu o primeiro Crepúsculo e ADOROU, mas depois que falaram tanto e marcaram como coisa de menininha, ele mesmo tava falando como se fosse uma porcaria. (e estamos falando aqui de um cara de quase 50 anos, com filho, com mulher, que passa longe das modinhas)

      E deixa eu comentar que EU tenho orgulho de você por ler esses livros, comprar e não se importar. E espero que você tenha dito pra ele que é pra você mesmo. Ou se não disse, que da próxima vez você lembre de fazer. (:

      (e totalmente acertou para a questão de distribuição e o John Green, apesar de que ele ser homem tem uma certa influência)

      DFTBA

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  12. Interessante discussão. Sabe que até hoje nunca tinha pensado nas minhas escolhas literárias por gênero. Mas toda vez que leio algo do tipo: Ficou bom mesmo sendo feito por uma mulher, dá uma dor pesada no peito. Vou refletir mais sobre isso.
    Beijos a todos.
    www.devaneiosefalacias.blogspot.com

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  13. Eu estranhei o post, pois na minha estante, eu tenho uma maioria esmagadora de livros escritos por mulheres(80 a 20 ex)... Não sei se concordo, talvez haja outros motivos, sei lá não ser tão censurados em anos anteriores. Eu não posso ter opinião por que para mim isso é uma irrealidade. Não sei se me compreendem.

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    1. Eu quis dizer os homens não serem tão censurados em anos anteriores.*

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  14. Antes de lerem o meu comentário peço que, por favor, não me julguem mal kkk
    Tudo o que vou dizer aqui é a visão de uma leitora casual e sem entendimentos profundos sobre a literatura como eu têm. Depois vocês tirem as suas conclusões.
    Já li todos os sucessos mais recentes como George Martin, Stephanie Meyer e John Green, mas li mais antigos como Nora Roberts, Emily Brontë, Anne Rice e J. M. Simmel e tenho opinião sobre cada um dos livros. Quero dizer é que li romances feitos por ambos os sexos e notei uma sutil diferença que ‘ME’ serve pra responder muito disso.
    A causa está muito além de cor de capas de livros e de personagens estereotipados – não que sejam fatos menos importantes -, se não homens não usariam roupas cor de rosa e sem estereótipos fica mais difícil de o leitor idealizar personagens – parece triste o que eu disse sobre estereótipos, mas não é, por que o autor pode dar todas as características de um personagem, mas quando se lê um livro cada pessoa cria o seu personagem particular. A causa está no início da história do homem e da mulher.
    Antigamente, quando iam caçar (sim, eu acredito que um dia o homem tenha sido um pouco macaco por causa das evidencias) os homens precisavam seguir um líder - ou ser um líder – que pudesse ser alguém confiável para sugerir um melhor caminho para a tribo, para a caça, e que fosse capaz de proteger as famílias e de fazer as melhores escolhas. Desde então tem-se o “herói”. Os homens viviam para a caça, em busca de seguir uma trilha, olhando sempre para frente em busca de sustentar a família – um trabalho mais mecânico. Já a mulher precisava manter a casa, fazer a comida e cuidar da saúde dos que estavam ao seu redor. Sempre precisava reparar se seus familiares estavam sadios ou doentes. As mulheres sempre se doaram muito – um trabalho mais sentimental. Mesmo assim elas também seguiam líderes e valorizavam os heróis, pois eles protegiam seus familiares.
    Eis que isso se reflete até os dias de hoje. Os homens seguem os heróis, guerreiros e idealistas dos livros - grande parte dos homens não criou muitos vínculos com o seu lado sentimental como as mulheres. Já as mulheres entendem o lado dos homens, pois também sabem como reconhecer os heróis, só que ao mesmo tempo têm esse lado sentimental que os homens não compreendem. Assim, os homens tem mais gosto por esse tipo literário cheio de heroísmos e façanhas e as mulheres acabam por lerem de tudo um pouco.
    E eu vou te dizer uma coisa, nem sempre o que uma mulher escreve agrada um homem, mas também é muito difícil um homem agradar uma mulher na literatura quando se trata de romances românticos e quando eu digo romântico, digo daqueles jeitos que só as mulheres sabem escrever. Jhon Green e Nicholas Sparks escreveram ótimos livros de romance, mas só livros como os de Nora Roberts (como Fora da Lei e Paixão Sem Limites) é que conseguiram saciar meus devaneios com romances kk
    Eu sei que estão querendo acabar com as diferenças entre homens e mulheres e isso é bom por que as mulheres precisam mesmo ser mais valorizadas, mas isso não muda o fato de que somos muito diferentes e que isso ainda vai demorar um tanto de tempo pra mudar, por isso homens ainda escrevem livros para homens, apesar de que as mulheres também conseguem apreciar, e mulheres escrevem livros para mulheres e que aos olhos dos homens podem parecer doces demais.
    PS: não sei por que, mas geralmente quando os homens amam muito uma mulher nas histórias um dos dois morre. Por favor, alguém me explica isso. O-o

    Carolina Lemos

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    1. Não julgaria mal. Até porque você tirou um tempo pra se expressar e tentar entender a situação, que é mais importante do que tudo. Além disso, seu comentário foi super importante pra eu poder escrever um post recente. Foi a faísca da revolução. HUAHAUH

      Sobre estereótipos, Chimamanda Ngozi Adichie diz "E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem um história tornar-se a única história."

      E o problema da histórica única é que você pensa que pode ser apenas isso, as pessoas ao seu redor esperam que você seja apenas isso, e o mundo é criado como se você fosse apenas isso - enquanto não é. Então você vive um mundo que não reconhece a sua verdadeira existência.

      A ideia de que homens não gostam de rosa é um desses exemplos. E isso se tornou tanto uma história única, que parece natural. Mesmo que seja uma invenção cultural extremamenet recente. E isso ainda faz parecer que não podemos mudar essa realidade.

      Sobre isso do "Antigamente, quando iam caçar" foi a minha parte preferida, porque eu não consigo acreditar em milhares de ano de história essa estrutura tenha se mantido e decidi pesquisar - acabou que não é verdade. Esse antigamente quando os homens iam caçar, eram os heróis, e a mulhe mantinha a casa - ele não existe. Mesmo que é provável que nossa espécie tenha evoluído do macaco - ou da mesma que ele - não é um processo tão rápido e assim. Inclusive, há dados que indicam que a igualdade de gêneros é justamente o que nos diferencia do macaco e permitiu a evolução.

      Tá vendo o problema da história única? Mesmo que a realidade seja uma, nós pensamos que os homens têm que ser líderes, heróis e protegerem nossas famílias mesmo que isso não seja verdade. mulheres, se quiserem, podem assumir esse papel. enquanto homens, que não quiserem, não precisam assumir esse papel.

      E essa reflexão do homem como herói não é uma cultura milenar. Eu não sei desde quando começa, em qual cultura começa, mas não é um reflexo de um sistema milenar. É algo reproduzido hoje em dia, agora, quando um autor senta pra escrever e repete a história de que o homem é o herói.

      Dito isso, eu concordo com você que exista diferença. Nós somos criados como pessoas diferentes. As pessoas com base no gênero designado no nascimento aprendem linguagens diferentes para interpretar o mundo e isso é refletido no que é escrito. Enquanto uma narrativa "masculina" é muito mais centrada na aventura da pessoa protagonista determinando a formação de quem ela é no mundo, na narrativa "feminina" você desenvolve essa noção de "eu" mais centrado nos relacionamentos. Ou seja - um cria identidade através do que faz, o outro cria identidade através de com quem está. E eu acredito que isso seja reflexo de uma cultura que rouba da mulher os meios de assumir a própria vida (não pode trabalhar, não pode andar sozinha, não tem treinamento pra se defender, etc etc). E eu não acho que uma seja melhor do que a outra se elas existirem juntas como opções - não opções de acordo com o gênero. Mas não é o caso.

      Estamos presos à história única. Uma história única que fortalece a ideia de que a mulher não tem poder sobre a própria vida. Uma história única que fortalece que um homem não pode ser sentimental. E tudo isso é tóxico pra sociedade.

      Eu me perdi aqui, mas quis compartilhar isso. :)
      Obrigada por comentar, Carolina. Eu espero que isso te faça refletir que as coisas não precisam ser do jeito que parece que são. E, em parte, que elas já não são assim, nós apenas tratamos como se fosse.

      E esse texto aqui é uma análise colaborativa desses filtros culturais que nos impedem de ver as pessoas pelo que elas são, julgando (e desvalorizando) com base em gênero.

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  15. Legal o post assim como as criticas, algumas pessoas leem para fugir da realidade, assim buscam se colocar no lugar do protagonista, não estou aqui pra julgar e sim pra falar que no momento não consigo ler livros com protagonistas do sexo feminino, sei que é uma falha minha, mas simplesmente não consigo. Talvez seja pela fazer ou momento que estou passando, e quanto a ler livro escrito por mulheres minhas experiencias não foram boas, mas talvez por que li apenas 3 sagas, e o final delas não foi do o que eu esperava, e vendo a discussões dela em um blog, o publico que se agradou foi do sexo feminino. Não estou jugando só expondo minha experiencia, não sou machista em nenhuma área da minha vida (nem mesmo no transito), mas nessa questão me peguei sendo.

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  16. PARTE (1)


    Geralmente não gosto de discutir essas coisas nesses ambientes, pois além da própria discussão já ser enviesada e cheia de fraudes históricas, rola muita má interpretação e discussões baseadas apenas na raiva. Li os comentários, concordei com alguns -- em parte, e outros, discordei totalmente. Alguns até ousaram pegar uma verdade e a distorcer até se enquadrar em sua visão de mundo.

    Vou tentar responder e refutar o texto da autora, mas para isso tentarei separar a discussão em dois temas: o aspecto histórico da literatura e o aspecto de gênero sexual, sabendo que esse também tem a ver com o fator histórico.

    Para começar, do que estão realmente discutindo? Antes de refutar a autora, vou desfazer alguns mitos que muitas de vocês disseram e disseminam por aí.

    ASPECTO HISTÓRICO

    1. A língua escrita foi uma invenção masculina em todos os povos que a desenvolveu. O uso da literatura para manter e proteger o conhecimento foi invenção masculina. Homens inventaram a língua escrita e, obviamente, por razões culturas, eram os maiores -- se não os únicos – disseminadores e mantenedores.

    2. No caso do Ocidente, a literatura moderna, ou a literatura em si, também foi criada por homens. A primeira auto-biografia foi feita por São Tomás de Aquino, monge, teólogo e filósofo da Igreja Católica. A primeira publicação humana narrada na primeira pessoa do próprio autor.

    3. É uma crença moderna e muito falsa de que houvesse uma conspiração para esconder o grosso do conhecimento humano do público. Na verdade, essa idéia, de guardar conhecimentos do público geral e mantê-lo apenas entre membros de determinado grupo surgiram de dentro de seitas ocultistas, e essas seitas são fenômenos da modernidade. Magia negra, poderes ocultos, rituais estranhos, forças espirituais e a idéia de usá-las em benefício próprio para ganhar poderes e controlar massas, tudo isso é coisa da modernidade. Atribuir isso aos estudiosos do passado é uma mentira safada.

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  17. PARTE (2)

    Em toda história, a quase totalidade da humanidade, de todos os povos, sempre foram de pessoas analfabetas. E diferente do que muitos também acreditam, o conhecimento linguístico não era baseado em castas sociais, tanto que a maioria dos nobres também eram analfabetos.
    A escrita, em todas as culturas, surgiu das religiões. As primeiras escrituras foram passagens religiosas, dos maias, dos egípcios, dos gregos, dos sumérios, dos hebreus, entre outros. Portanto, toda literatura era ligada à religião, e as poucas pessoas que sabiam ler eram os monges, clérigos, místicos e figuras semelhantes. As escrituras guardavam na história fatos importantes das culturas, aspectos religiosos, históricos, histórias de antigos reis, festivais importantes, conhecimentos matemáticos, astronômicos/astrológicos, guerras contra outros povos, pragas, etc.

    Pergaminhos, rolos de couro de escrituras, tudo isso era uma coisa restrita na época. Não era qualquer um que sabia fazer papel, ou papiro no Egito, ou couro para rolos, como era mais comum, ou esculpir a língua na pedra. Assim como os conhecimentos da matemática, engenharia e alquimia, poucas pessoas sabiam. Na Grécia antiga, os filósofos discutiam incansavelmente, seus debates eram escritos em pergaminhos e grande parte se perdia na história. Os "lançamentos" que ocorriam na época eram orais, e isso se assimilava na cultura, já que analfabetos sempre tiveram boa memória para o discurso e podiam decorar muita coisa com pouco esforço. Em culturas sem língua escrita, o conhecimento era passado de forma oral e, portanto, havendo interrupção geracional, acabava-se a cultura, o que não ocorria facilmente onde havia língua escrita.

    Voltando ao Ocidente. Na Europa, os livros também eram usados quase totalmente por monges ou estudiosos da filosofia grega que, diferente do que pregam nesses cursinhos de humanas, foram salvas pelos religiosos, tanto no mundo cristão quanto no islâmico. E se nem os nobres da Grécia não se importavam com a filosofia, os nobres europeus modernos muito menos, restando apenas aos religiosos o interesse no estudo. Todo estudo da filosofia deixado pelo que sobrou das escrituras gregas eram feitas por religiosos, traduzidas por eles, unificadas por eles e assimiladas por eles.

    Quando surgiu a tipografia, escrever um livro deixou de ser uma tarefa "cruel" (só era chato), pois geralmente era à mão, e logo se tornou feita em gráficas simples, usando madeira esculpida em forma de letra, ao avesso, banhada em tinta e carimbada na folha. Pela primeira vez na história humana se tornou possível a massificação da literatura, e os primeiros livros foram, obviamente, livros teológicos, históricos e filosóficos. Aliás, quando os homens religiosos inventaram as universidades, esses foram os primeiros cursos dados: filosofia, história e teologia.

    Depois, pode-se dizer do século 16 em diante, fabricar um livro virou quase uma banalidade. Já havia vários escritores, romancistas, poetas, historiadores, filósofos, teólogos, sem falar que foi também o surgimento da mídia impressa, os primeiros jornais.

    Em seguida, os homens também inventaram o sistema de ensino público, criadas por monges católicos, os primeiros professores. Além das universidades, eles também criaram as escolas, e quer saber, pouco importa se haviam escolas só para meninos ou só para meninas (acho esse modelo melhor), lá ensinavam todos a ler e escrever, ler bons livros e conhecer a literatura de sua cultura e a tornarem-se pessoas inteligentes.

    Portanto, cai aqui de uma vez por todas a mentira de que o conhecimento era propositadamente oculto da sociedade. Os homens inventaram a escrita, preservaram o conhecimento antigo, massificaram literatura e criaram estilos literários, além de serem os inventores do romantismo, a chatice que está sendo discutida aqui. Se hoje você lê livros, foi graças aos homens. O choro é injustificado.

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  18. PARTE (3)

    ASPECTO DE GÊNERO SEXUAL

    Ok. Agora vamos ao ponto da discussão. Os homens não querem ler livros escritos por mulheres? Em parte é verdade, embora não pelos motivos que vocês alegam, e a outra parte é bem mentirosa.

    Primeiro de tudo. Sendo os homens inventores de toda cadeia histórica do romantismo e idealizações de personagens nesses dramas, é natural que os próprios homens também reconheçam isso em seus pares de gênero, bem como as mulheres também tendem a reconhecer e a discutir aspectos emocionais com seus pares femininos.

    O homem dente a buscar numa história mitológica, de fantasia histórica, sempre na visão de outro homem. Quando as mulheres também querem consumir esse tipo de literatura elas também têm essa tendência. Não é machismo, é pela perspectiva do homem, que tende a ser mais geral do que pessoal. Mas isso depende mais do tipo de literatura do que do gênero do autor. Por exemplo, no caso de livros de história, não há essa visão, de que “homens farão uma obra melhor por ser de uma perspectiva masculina”, mas sim porque o gênero literário histórico é no aspecto geral, não tendendo a esbarrar diretamente na perspectiva do autor. Portanto, quando se pega uma obra sobre história, geralmente se olha o calibre do autor, se ele tem gabarito. Geralmente seu gênero sexual é ignorado.

    Livros de diferentes gêneros escritos por mulheres tentem a ser tão respeitados quanto os escritos por homens. Porém, ao entrar em assuntos referentes a relacionamento, aí começa a surgir as diferenças, que por vezes chegam a ser brutais, mas essas diferenças não partem do desprezo de um gênero sexual, mas da própria diferença entre os gêneros sexuais, pois isso implica em diferenças de perspectiva e do interesse do leitor. Para os homens, livros de romance escritos por mulheres tendem a ser repelidos. As próprias mulheres também preferem livros contados na perspectiva masculina.

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  19. PARTE (4)

    ROMANCE

    Por que mulheres preferem livros de romance escritos por homens? Porque geralmente há uma idealização da figura feminina e da humilhação do homem para conquistá-la. Já nos romances escritos por mulheres, sendo uma coisa mais recente, fica evidente o idealismo da figura masculina, mas essa figura masculina é repulsiva e repelida até pelos próprios homens. É um fato que romances femininos geralmente são em torno de badboys, riquinhos, almofadinhas, caras fortes, brutos, poderosos, com altíssimo poder de sedução. Fica muito claro o enorme hiato entre um romance masculino e um feminino, e os homens percebem isso instintivamente, e aqueles que chegaram a consumir esse tipo de literatura já entenderam a perspectiva feminina. É muito, mas muito além da capa. E pra piorar, geralmente esses livros, em grande parte, não passam de literatura pop. Depois de alguns anos ninguém vai se lembrar. É literatura pra consumo de massa, não arte. Os homens também fazem isso, como o já citado John Green, mas a maioria dos escritores de romance pops são mulheres.

    Mas infelizmente, aos poucos está havendo a migração do romance antigo, masculino, para o romance feminino. Eu tenho medo de ver como esses livros têm ficado famosos. 50 Tons de Cinza e similares, o que se pode perceber neles é o romance macabro e a destruição da figura masculina real (não só a idealizada), sempre idealizando como o homem certo um homem baixo, vulgar e cretino, aquele homem que todos os homens desprezam. Vocês que são feministas, que tanto lutam contra a submissão da mulher, acabaram criando uma cultura de busca pelo romance macabro, a busca pelo homem aproveitador, manipulador, sádico, frio, ganancioso, pervertido e dominador, diferente do homem ideal da perspectiva masculina, que é um guardião e protetor da mulher e da família.

    As mulheres dos romances, na perspectiva masculina, são femininas, doces, simpáticas, e buscam um homem que seja um protetor, o herói (e de fato os homens são assim) e as amem profundamente. Os homens, da perspectiva masculina, independente de seus status, acham o coração numa pobre moça abandonada, uma plebeia, uma mulher problemática, numa aleijada e até numa prostituta desiludida. É uma alusão instintiva, de que o homem deve encontrar uma mulher que seja um complemento, e vice versa.

    Já na perspectiva do romance feminino, a mulher é quase sempre uma adolescente ou age como tal, busca um homem cheio de status, é um príncipe, um famoso, um badboy, um poderoso, que faz atiçar a inveja das outras mulheres, e que faça sentir-se submissa com apenas um olhar, e esse homem quase sempre não é protetor, não se importa com seus sentimentos, a trata como objeto sexual, transa e a abandona. Por vezes, o excesso de melosidade entra apenas como um adoçante, para disfarçar essa relação de dominação demoníaca, e terminar chocho igual uma comédia romântica. Aliás, essa é a maior crítica feita a esses “romances femininos”. Para quem compara a literatura clássica masculina e a compara ao cenário pop atual, a diferença é clara até de mais.

    Finalizando aqui as diferenças de perspectivas por gênero. Não existe preconceito por gênero em literatura. O que há é o conhecimento prévio de que, na literatura afetiva, a perspectiva de uma mulher geralmente não é atraente para a maioria das mulheres e principalmente para os homens, o motivo já citado acima. Embora hoje a perspectiva feminina já esteja se disseminando rápido pelo excesso de filmes baseados em livros.

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  20. Os comentários do Bruno Rocha soam como uma aula por causa da arrogância dele ao escrever e por ele achar que sabe muito mais de história e literatura que todas as pessoas do mundo, mas nem se colocar como o "bambambam" foi o suficiente pra esconder o machismo dele.

    Não existe uma história única. A visão da história de que homens fizeram tudo, guiaram tudo, descobriram e conquistaram tudo é irreal. O machismo e a misoginia excluíram as mulheres de muitas coisas e dificultaram que elas tivesse acesso ao conhecimento na mesma proporção que homens, mas mesmo nesses tempos de tanta discriminação e pouco acesso ao conhecimento, existiram mulheres importantes, só que elas foram sistematicamente invisibilizadas na história. Hipátia de Alexandria é um exemplo que mostra que mulheres se fizeram presentes como intelectuais mesmo em culturas que viam mulheres como inferiores.

    Eu achei interessante que parte da argumentação do Bruno Rocha partisse do "só religiosos tinham acesso, então é baboseira o que vocês estão falando" sendo que os locais que as mulheres podiam/podem ocupar dentro das religiões não são os mesmos dos homens. Bruno Rocha falou, falou e falou e não percebeu que o que ele disse foi "olha, só homem tinha acesso ao conhecimento". Eram poucos homens, claro, mas ainda assim mostra mais uma vez a discriminação das mulheres que afetaram bastante o acesso delas às oportunidades.

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  21. Continuando...

    Sobre literatura atual, cultura e "gostos pessoais": eu nasci, cresci e até morrer continuarei inserida numa cultura machista. Isso quer dizer que fui socializada desde a mais tenra idade a gostar de rosa, sonhar com um príncipe encantado e afins. Obviamente, eu não sou um estereótipo ambulante e sim um indivíduo, mas isso não quer dizer que o machismo ainda hoje não influencie os meus gostos, por exemplo. O que quero dizer com isso é que o machismo da sociedade afeta a nossa forma de ver e se interessar por diferentes narrativas. Não é algo biológico, sabe? É só consequência de uma sociedade que se sustenta numa cultura que diz que mulheres são assim e homens são assado. As editoras, as universidades e os críticos literários são parte disso tudo e reproduzem e lucram em cima disso, por isso as capas estranhas e as prateleiras "chick list". A escrita feminina ainda hoje é considerada interessante só para mulheres porque a sociedade nos faz pensar assim. Ela diz que mulher gosta de x e y e homem de z e coloca tudo que é visto como feminino como algo bobo, fútil, sentimental demais. Ela diz que homem escreve pra todo mundo, tem uma visão geral e que mulheres falam mais de si mesmas ou de sentimentos. Por isso, muitos homens sentem vergonha de ler livros escritos por mulheres ou sequer experimentam tentar porque acreditam que não vai ter nada a ver. É bem triste isso, porque a literatura é uma forma de expandir horizontes, se divertir, aprender, desenvolver empatia e todos nós precisamos ler livros escritos por autores diversos, porque isso nos possibilita ver o mundo de uma forma mais humana, sabe?

    Acrescento que a visão do que é romântico é baseada também no que nos ensinam a esperar de um relacionamento. Bruno falou muito sobre os protagonistas de histórias românticas escritas por mulheres serem escrotos e eu fiquei pensando que isso pode ter a ver com o fato de que a gente vive num mundo em que homens são escrotos com mulheres e que somos ensinadas a ver como declaração de amor mudanças nesses comportamentos que reprovamos. Tem isso na novela, tem isso em filme e tem isso na literatura, escrita por homens ou mulheres. É um clichê que agrada porque é o que muita mulher que viver, já que só encontra sapo por aí, sabe?

    Acho que todo o desconforto com os livros românticos escritos por mulheres do Bruno se baseiam no Cinquenta Tons de Cinza e Crepúsculo, hahahahahaha, e olha, muitas mulheres odiaram esses livros, mesmo eles tendo sido escritos por outras mulheres. Muitas caíram em cima dos relacionamentos retratados, por exemplo, porque os consideraram abusivos. No discurso do Bruno eu vi algo que beira a culpabilização da vítima, porque ele diz que mulheres gostam do bad boy, do escrotão, sendo que não é bem assim, sabe? Mulheres só é ensinada que se ela for boa o suficiente eles vão mudar e num mundo machista essa é a história de "heroína" que muitas cresceram ouvindo.

    Outra coisa que destaco é que a visão romântica do Bruno é extremamente heteronormativa e estereotipada, sabe? Vai ler Natalia Borges Polesso e descobrir que tem gente escrevendo coisa muito diferente do que você chama de "romances femininos".

    No mais, todo mundo aqui está confundido o que é romance com uma história contar sobre a relação de amor de algumas pessoas. É fácil escrever um romance sem nenhuma relação amorosa, porque romance é uma forma literária que pode caber diversos tipos de histórias.



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  22. Denuncio uma barbaridade, um absurdo: a Livraria Cultura se-pa-ra em prateleiras e seções dis-tin-tas livros que classifica como "chick lit" das demais obras de ficção. Segundo uma vendedora da loja da Paulista, quando a questionei a razão disso, "é que esses livros não são literatura". Assim, Jojo Moyes, uma ficcionista talentosa, é desrespeitada como "chick lit" enquanto Nick Hornby, que também escreve ficção contemporânea e de leitura ágil, porém voltada para rapazes, está... na prateleira da "literatura respeitável". Temos, em primeiro lugar, que exigir respeito para as escritoras e impor o fim do rótulo "chick lit". Vamos começar fazendo um boicote à Livraria Cultura e exigindo que ela acabe com essa discriminação odiosa.

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