por Paulo V. Santana
- Autora: Carol Bensimon
- Editora: Companhia das Letras
Minicrítica ~ Resumo:
Cora e Julia, duas amigas que
não se falam há anos, deixam seus atuais países – França e Canadá,
respectivamente – para se reencontrarem onde foram criadas e se conheceram, no
extremo sul do Brasil. Finalmente as duas vão colocar em prática um plano antigo:
uma viagem de carro pelas mais belas e peculiares paisagens do interior do Rio
Grande do Sul. Numa jornada de autoconhecimento e recuperação de laços, as
jovens se aventuram por lugares que sempre estiveram tão próximos, mas ao mesmo
tempo tão distantes.
Conheci o livro através do seu
booktrailer (vocês podem ver aqui, ou depois do "pulo"), que é excelente, e não me arrependo de ter corrido atrás do livro
logo em seguida. A história é original e apresenta muitos pontos fortes, assim
como personagens interessantes e bem construídas. Tudo isso é completado
pela ótima prosa de Carol Bensimon, uma das jovens escritoras brasileiras que mais
merece destaque. Altamente recomendado.
Tudo começou há alguns meses,
quando vi a Dayse, a Bell e outras pessoas do Twitter surtando com o trailer de um livro. Obviamente,
cliquei no link para saber qual era a do tal vídeo. E não é que eu gostei
também? Trailer de livro é algo que não ligo muito, porque geralmente são sem
graça ou até mal feitos. Mas esse, dirigido por Liliana Sulzbach, me chamou a
atenção. Fui atrás de mais informações da história e sabia que teria que ler o
livro. Até o título, “Todos nós adorávamos caubóis”, era legal! Não podia
deixar essa passar, né?
Animado, comecei a leitura
assim que recebi o livro. Na primeira tentativa, gostei, mas havia algo que
estava me incomodando. Deixei o livro de lado por algumas semanas, até perceber
que a culpada era a expectativa, que andava alta demais. Fiquei tão extasiado com
a ideia de uma road novel escrito por
uma jovem autora brasileira que ler o livro de verdade não foi tão bom assim.
Estando livre (ou quase) da expectativa, retomei a leitura e quase não
consegui parar. A escrita de Carol Bensimon é tão bela que me fez ficar
completamente imerso na história.
A narradora de “Todos nós
adorávamos caubóis” é Cora, uma jovem que estuda Moda em Paris. Ela está de
volta ao seu estado natal, o Rio Grande do Sul, para uma viagem de carro pelo
interior gaúcho, uma antiga promessa entre Cora e uma amiga, Julia. Morando e
estudando em Montreal há algum tempo, Julia esteve completamente afastada de
Cora por anos. Agora, nesse reencontro, as duas não estão apenas em locais
completamente estranhos – elas são estranhas entre si. Ao longo da história,
percebemos que a vida de Cora é mais complicada do que achávamos ser num
primeiro momento, assim como a de Julia. E descobrimos ainda que
retomar uma relação não tão bem resolvida num local completamente novo pode ser
uma experiência inesquecível.
Nunca tive nenhuma experiência
com uma road trip, nem mesmo na literatura – o único contato foi com poucas
páginas do icônico “On the road”, já que acabei largando-o rapidamente –,
então, ler “Todos nós adorávamos caubóis” foi pisar num terreno completamente
novo. Felizmente, foi uma boa primeira vez. Em vez de passagens chatas sobre
locais diferentes e dos quais nunca ouvi falar, o livro apresenta passagens descritivas interessantes, que chamaram a minha atenção. Aliás, os lugares
funcionam mais do que simples cenários, eles são elementos importantes para
construir um clima de novidade e peculiaridade para o desenrolar da história
das duas amigas.
Uma coisa fascinante sobre o livro é o desenvolvimento dos personagens. No começo da leitura (principalmente em minha primeira tentativa), nunca iria cogitar o ponto que Cora e Julia alcançaram. E não por serem caminhos inverossímeis, é claro. Tudo é justificado pela evolução que cada uma das duas vai passando. A autora não entrega tudo logo de cara, ela optou por uma narrativa cortada, não seguindo uma ordem cronológica exata para apontar os acontecimentos passado - que são muito importantes para compreendermos as personagens. Dessa forma, tudo é construído aos poucos, assim como o amadurecimento pelo qual Cora está passando no presente, aspecto refletido no tom da narração.
Carol Bensimon, a autora |
A sexualidade é um dos temas centrais da história. Desde os primeiros momentos em que Cora começa a falar sobre Julia, percebemos que os detalhes sempre tocam um lado mais sexual. À medida que o passado das duas é revelado, entendemos mais sobre os reais sentimentos das duas amigas. É interessante como a autora insere a bissexualidade - que é como Cora se define - na trama e toda a ambiguidade que permeia a relação dela e de Julia do início ao fim do livro. Por mais que o texto colocado na quarta capa até pareça apelativo estando fora de contexto, a questão sexual é um traço importante na construção da Cora. Além disso, outro ponto da autora foi a preocupação em não retratar duas garotas fazendo sexo com um tom fetichista, mas de forma natural.
A escrita de Carol Bensimon é sem igual. Ela carrega toda uma sinceridade e consegue ser tanto direta e ríspida em determinados momentos quanto poética e doce em outros. Não há como ler e não se encantar com várias passagens e ainda grifar algumas.
A escrita de Carol Bensimon é sem igual. Ela carrega toda uma sinceridade e consegue ser tanto direta e ríspida em determinados momentos quanto poética e doce em outros. Não há como ler e não se encantar com várias passagens e ainda grifar algumas.
Por fim, não há dúvidas de que
recomendo “Todos nós adorávamos caubóis”. Assim que o terminei, corri para
adicionar a Carol na lista dos autores indicados para o mês do Brasil no “Volta
ao Mundo em 12 Livros” (nosso projeto literário de 2014, ainda não conhece?).
Acredito que ela mereça evidência, dentre tantos bons nomes da literatura
contemporânea brasileira – muitos que ainda não tive a oportunidade de ler,
aliás. Em seu segundo romance, trouxe personagens interessantes, bem
construídas e uma prosa deliciosa. Definitivamente, é uma jovem escritora digna
de destaque.
Sobre a nota: Diante de um livro de tantas qualidades, poderia
facilmente dar a nota máxima. Entretanto, não posso dizer que a leitura chegou lá. Dou a nota 4, mas sabendo que a
Carol Bensimon é uma escritora excelente e ainda tem muito a nos oferecer.
Nota:
P. S.: Enquanto lia, notei que o livro daria um bom filme. Passeando pelo Twitter da autora, descobri que não sou o único com essa opinião e os direitos já foram até vendidos. O que nos resta agora é torcer para que o projeto dê certo e um dia possamos assistir uma adaptação nos cinemas.
Esse livro foi oferecido pela Companhia das Letras, muito obrigado! <3
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2 comentários
Gente, nunca havia ouvido falar desse livro ... Vou caça-lo por aí porque agora fiquei com vontade de conferir de perto rsrs
ResponderExcluirBjs
Oi, Simone! Vale muito a pena, procura sim! A Carol ainda tem outros dois livros, estou morrendo de vontade de ler. Um deles foi publicado pela Companhia também, o título "Sinuca embaixo d'água".
ResponderExcluirBeijos!