a lenda de korra avatar

Se heróis matassem: Matar é vencer o mal?

9.11.13Dana Martins


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Um herói de verdade mata? Isso foi o tema da conversa do Wilker semana passada aqui, e hoje eu venho com outra. O que ele disse realmente me fez pensar, ainda mais que há poucos dias eu passei por esse conflito. Sim, tive que decidir se matava alguém ou não. Mentira. HUAHA Na verdade, eu assisti Star Trek - Além da Escuridão, e naquela cena clichê no final com close no rosto do vilão preso sendo mandado para o espaço (nesse caso, literalmente), eu fiquei irritada. Essa é a receita básica de: vai dar merda mais tarde. A primeira coisa que eu pensei foi: Ah, mata esse cara logo! Mas... sério?

Quando a gente pensa fica bem melhor, e foi o que o Wilker me ajudou a fazer. Então vamos aqui passar pelas nossas histórias preferidas (super-heróis, Jogos Vorazes, Senhor dos Anéis, Avatar: A Lenda de Aang, Star Trek) e ver como o mal é vencido. 

Matar o vilão é vencer o mal?

Em uma rápida pesquisa mental percebi que a maioria das principais histórias hoje em dia o resultado é o assassinato do vilão.* Harry Potter, Senhor dos Anéis, Jogos Vorazes e até Crepúsculo (por que não?). Assassin's Creed nem se fala. Mas misturado a isso temos uma solução interessante, que é marcada ao máximo em Avatar (A Lenda Aang). Não é a questão de matar o vilão: é de tirar o poder.

Repare que quando a gente pensa na morte do vilão, dificilmente pensamos "assassinato do vilão." Mesmo que ele tenha sido assassinado (a sangue frio) pelo herói da história, a gente não encara desse jeito. O vilão morreu.

Em Senhor dos Anéis, quando o anel é destruído, esse mal é finalizado. O interessante dessa abordagem de Senhor dos Anéis é que a "maldade" está no anel e quem usa é que fica pior. Algo parecido acontece com as horcruxes em Harry Potter. Quando o Harry/Rony usam o colar no sétimo livro eles começam a brigar, a Gina é controlada pelo diário em A Câmara Secreta. Em ambos os casos, o mal não está na pessoa em si, mas em algo que ela usa. O mal pode ser retirado.

A questão não é matar a pessoa, é destruir o que a torna má. 

Também temos Jogos Vorazes, que tem a abordagem mais cru da morte. A heroína é quase uma serial killer. Se fizéssemos uma análise profunda dos livros provavelmente teríamos a resposta da pergunta do Wilker: Heróis matam? Mas agora eu vou focar no assassinato do vilão.

Uma parte de Em Chamas que explica perfeitamente porque matar não basta. Aliás, esse filme está ótimo para essa discussão. 
SPOILER DE A ESPERANÇA (JOGOS VORAZES) A PARTIR DAQUI

Vamos direto para a grande cena do terceiro livro em que o símbolo da rebelião vai assassinar publicamente o símbolo da opressão. No último segundo, Katniss vira a flecha e mata Coin em vez de Snow. Por que ela não mata o Snow? Ele virou do bem? Não, porque ele perdeu o poder. Matar o Snow? Apenas simbólico para dizer que a Capital foi vencida (o que já aconteceu). Matar a Coin? Aí a situação é outra. Sim, a saída da personagem foi matar o vilão, mas ela fez mais do que isso. Ela tirou o poder da Coin e do Distrito 13 - e da opressão. (para analisar mais profundamente isso teria que pegar todo o contexto da história, então vamos parar por aqui)


Em Jogos Vorazes mesmo, temos outro grande exemplo para a discussão: a própria Katniss. Quando ela se torna o símbolo da rebelião, ela ganha poder. Repare que, no fim das contas, não é uma questão de ser bom ou mau, é uma questão de poder. A própria história mostra que não adianta matar a Katniss (durante A Esperança por um período todos acreditam que ela está morta), porque o poder que ela tem não acaba ali. Pelo contrário, fica até mais forte. Se fosse só uma questão de matar, a Katniss não teria nem entrado no primeiro Jogos Vorazes. Teria morrido no instante em que acertou a flecha na boca do porco. 

Mas ela não morreu e ela mesma se questiona: Por que não me mataram? Não é simples assim. A morte da pessoa não é sinônimo da morte do mal que ela causa (ou efeito do seu poder).

LIVRE PARA VOLTAR A LER

Green Goblin: Spider-Man. This is why only fools are heroes - because you never know when some lunatic will come along with a sadistic choice. Let die the woman you love... or suffer the little children? Make your choice, Spider-Man, and see how a hero is rewarded!
 Spider-Man: Don't do it Goblin!
 Green Goblin: We are who we choose to be... now, *choose*!

Isso também fica claro na história do Homem-Aranha. Depois que o "verdadeiro" Duende Verde morre, você tem vários outros e até o Duende Macabro, que também são vários. Eu li uma parte de uma história em que depois da morte de algum Duende Verde aconteceu um surto de seguidores que tentavam imitar. Tá, não precisamos nem ir muito longe, na primeira trilogia do Homem-Aranha no cinema o Norman Osborn morre e o filho Harry Osborn toma o lugar. Moral da história: adianta matar? Não, é o poder que tem que ser retirado.

Então chegamos a Avatar, o mesmo conflito citado pelo Wilker no último post. Quando chega a hora de enfrentar o grande vilão, Aang entra em crise porque não quer matar. Mesmo suas "vidas passadas" insistem que ele precisa fazer isso e com um argumento bem convincente: o último avatar hesitou e morreu por causa disso. Aang ainda assim não aceita e passa por uma crise que termina quando ele aprende a retirar a dobra de alguém (o poder de controlar os elementos). Na verdade, o que ele aprende? A tirar o poder. Quando ele faz isso não precisa matar, a pessoa não tem mais como causar mal.

Na primeira temporada de A Lenda de Korra (avatar depois do Aang), por que Amon é um vilão difícil de enfrentar? Porque a forma de poder dele é outra, não é baseada em dobra. Aliás, ele mesmo aprendeu a retirar a dobra. Em um mundo onde essa é a forma máxima de poder, ele se torna extremamente forte. Quase um Robin Hood. 



O Wilker na discussão sobre o texto dele, pergunta: Nossos heróis hoje em dia são "matadores" porque estamos cansados dos bonzinhos?

Acho que o que essas histórias nos mostram é que a visão de herói está mesmo diferente. Mas também não é que eles tenham deixado de lutar pelo bem. 

No filme Across The Universe tem um quote que é algo tipo: "Não é o que você faz, é como você faz." A diferença entre um herói e um vilão está justamente aí. Em Star Trek, que eu citei lá no início, é até difícil falar em "vilão", porque está todo mundo meio justo. Kirk, que faz o errado para salvar o amigo; O chefão lá, que trabalha para o "bem" e decide produzir máquinas de guerra; E Khan, o vilão que só quer se vingar por passar anos preso, perder a própria tripulação e ser usado pelo chefão (Revenge versão Space). A diferença é que os dois últimos escolheram matar todo mundo no meio do caminho. 

Dava até para recriar a história. Você tira o Kirk, o Spock e aquela mulher que só chora, deixa o Khan em sua busca para resgatar seus amigos e denunciar as tramoias do chefão. Já tem um grande herói em potencial. Se ele faz tudo sem causar uma guerra no espaço, vira a mesma história de Percy Jackson e o Ladrão de Raios.

Eu assistiria esse filme sem o menor problema.
Qual é a conclusão dessa história toda?

Há uma desconstrução de o "do bem" vs. o "do mal", porque o mal não é algo que está no nosso DNA e que levamos para o túmulo. Como o anel de Senhor dos Anéis, é algo que nós usamos, pode ser retirado e destruído. E que a definição do que é "mal" também não é algo sólido, é uma uma questão de poder usado de forma negativa. Então se o herói descobrir onde está o poder do vilão e encontrar uma forma de retirar, ele não vai precisar matar ninguém (é até melhor do que matar!). 

Eu acho meio macabra essa conversa sobre assassinato, que a maioria das vezes a conclusão é a de que alguém pode decidir se o outro vive ou não. Existe algum teste para provar que alguém é digno para ser juíz da vida do outro? Ou alguma fórmula mágica para saber se "não havia mais alternativa"? 

Eu também acho muita hipocrisia essa coisa toda de herói que não mata, mas isso é conversa para outro dia.

Essa conversa continua em:

-dana martins

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1 comentários

  1. Eu deveria fazer um comentário inteligente, porque eu já refleti um bocado sobre a vilania ( um dos resultados pode ser lido aqui http://conversascartomanticas.blogspot.com.br/2011/12/da-vilania-ou-como-conseguir-um.html) e sobre a Sombra (que escrevi um pouco aqui http://conversascartomanticas.blogspot.com.br/2012/02/quando-sombra-se-faz-presente-ou-carta.html).
    O problema é que a discussão de vocês me deixou pensando, e muito, e acho que não vai sair nada de inteligente depois de MUITA reflexão.
    Sobretudo porque é visível que o que acontece na ficção acaba por ter reflexos na vida cotidiana.
    Obrigado, mesmo, pela série de artigos.

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