Meu primo me disse que assistiu Jogos Vorazes e eu perguntei o que ele achou, ao que ele respondeu: "Bem loucão, né? Não sou muito ligado nessas coisas fora da realidade." Eu já devo ter dito isso aqui em um Centro de Treinamento, porque eu adoro lembrar disso e rir a cada vez que a realidade aparece e mostra exatamente o contrário. Não, Jogos Vorazes não é loucão. Muito menos fora da realidade. Hoje eu venho apresentar a vocês uma pessoa sobre quem eu queria falar há muito tempo aqui no CC, o nome dela é Malala. Deixa eu mostrar a vocês o que ela tem a ver com a Katniss.
Lembram de "Vamos repensar os Manifestos no Brasil, vamos repensar Jogos Vorazes"?
Lembram de "Vamos repensar os Manifestos no Brasil, vamos repensar Jogos Vorazes"?
Primeiro, vamos às apresentações direito. Katniss Everdeen é a protagonista da série Jogos Vorazes, uma menina de 16 anos que vive em um distrito pobre de um país baseado na injustiça social e se vê diante de um impasse: se sacrificar ou mandar a irmã de tributo para uma chacina. Essa é a nossa heroína, e ela se sacrifica para dar uma vida à família - opção que ela fez, na verdade, muitos anos atrás quando o pai morreu e ela assumiu a liderança de casa.
Leia mesmo se já conhece a Katniss para entender a relação no final! |
Só que a nossa Katniss tem a dificuldade de abaixar a cabeça e acaba usando as regras do inimigo para vencer um jogo. Veja bem, a Katniss não é apenas mais uma vencedora de um reality show chamado Jogos Vorazes. Quando ela leva o Peeta para casa, ela está vencendo uma disputa transmitida em escala nacional em um jogo que deveria ser a prova máxima de que o povo não tem poder. Se você não está familiarizado com a história (ou não é bom de memória), o reality show é uma punição de uma revolta dos distritos contra o governo.
A Capital diz: "Olha como somos legais, poderíamos ter destruído vocês, mas somos bons e vamos deixar apenas seus filhos lutarem até a morte enquanto todo mundo assiste sem poder fazer nada."
Durante anos e anos as pessoas de Panem cresceram com o terror dos Jogos Vorazes e com um grande aprendizado: você não pode fazer nada. Ou você nos obedece ou... obedece. Não há opção. Você não pode fazer nada.
Quando a menina do arco e flecha leva Peeta para casa, o que está sendo dito é: "Nós podemos fazer algo. Nós não estamos nas mãos do governo. Ainda há soluções."
Como o trailer de Em Chamas fala, repete e diz novamente: O que mudou? Esperança.
Tá, tá, tá... Vocês já foram mais do que apresentados à Katniss. Provavelmente já encontraram com ela pela cidade apontando flechas para qualquer um que passe.
Malala Yousafzai é um caso diferente, porque ela não vive em uma distopia fictícia, ela vive no mundo real. (às vezes não sei dizer o que é melhor) Ela é uma menina paquistanesa que começou a lutar pelos direitos a educação e pelos direitos da mulher. Hoje em dia ela tem 16 anos, mas é o passado que faz a história dela.
Em 2009 (11-12 anos) ela escrevia para a BBC em um blog com o pseudônimo Gul Makai (quase uma super-herói), onde ela contava como era a vida dela sob o regime Talibã. Depois participou de um documentário. Ganhou destaque e virou uma ativista mais séria no país até que... em outubro de 2012 ela levou um tiro na cabeça e no pescoço, porque é o que acontece quando você começa a gritar verdades por aí. Mas ela sobreviveu para contar história, porque o mundo não é escrito pelo George R. R. Martin.
Na verdade, até escrever isso aqui eu pensei que ela estava morta. Mas não, ela foi levada para a Inglaterra, onde tem vivido, estudado, saído para tomar chá com o Obama e continua sua luta pelos direitos. Da mulher. Da educação. O seu. Porque, caro amigo, não pense que só porque o seu não está na reta é que você está livre. No momento que alguém é privado de um direito, todo mundo é afetado.
Inclusive, recentemente ela lançou um livro para contar a sua história, porque mesmo no mundo do twitter um livro é a melhor forma de espalhar ideias. Que, é claro, já foi banido por escolas no Paquistão, porque lá não existe liberdade de expressão, e se você fala algo que é contra o governo e a religião... Bem, você provavelmente leva um tiro na cabeça.
E se você está dando graças a Deus (ha ha ha) por viver no Brasil, um país onde você pode falar quase tudo o que quiser, lembre que 30 anos atrás o país vivia uma ditadura. Certos livros eram proibidos nas escolas e certas conversas era melhor nem existirem. Alguns adultos (seus pais?) vão testemunhar que a indicação de livro era só coisa bobinha (se é que tinha), porque era melhor não pensar. Aquele seu livro chato sobre preconceito de leitura obrigatória já é uma conquista e se você não tomar cuidado pode perder outra vez.
E o que tem a Malala e Katniss em comum, Dana?
Muita coisa. Eu poderia citar coisas básicas como a idade. Essa história dela começou aos 11/12 anos, a mesma idade que a Katniss perdeu o pai. Em Jogos Vorazes a Katniss tem 16 anos, mesma idade que a Malala tem agora. As duas são bem famosas no tumblr.
A Katniss canta, não canta? Não, claro que não. Ela não canta desde pequena. Ela foi calada pela situação. Até que... Tradução: Nós percebemos a importância da nossa voz quando nós somos calados. |
Olha só o que eu encontrei numa entrevista com a Jennifer Lawrence! Veja em inglês aqui. Tradução: O filme tem um senso político muito forte, o que você gostaria que os fãs aprendessem com isso? Jennifer: Quão poderosa uma única voz pode ser. |
Mas o que eu acho mais interessante é o nível de símbolo que elas conquistaram. Katniss vira o Mockingjay (tordo), símbolo da revolução. Malala é o símbolo de luta por direitos iguais para a mulher, não só no Oriente Médio como no mundo inteiro. Porque nós podemos ir a escola, mas exemplos simples como o teste de Bechdel mostram que ainda há um longo caminho de mudanças.
E, principalmente para as milhares de garotas que vivem sob leis machistas (injustas), ela é um verdadeiro Mockingjay. Um sinal de esperança e de um futuro. Elas querem lutar. Continue dando voz a elas, Katniss! Não, pera. Malala.
Vou finalizar com essa música chamada "I am Malala", que é quase uma versão real da máscara do V de Vingança. Malala não é a Malala, é você, sou eu, é a sua tia, é a sua irmã. E por que não o seu irmão? O seu amigo? Malala deixou de ser uma pessoa e virou um símbolo.
I am Malala
I am infinite hope
-dana martins
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