por Igraínne Marques
- Livro: Numbers - Tempo de fuga
- Numbers #1
- Autor: Rachel Ward
- Editora: ID
- Comprar: Saraiva, Travessa
- No Skoob
- Numbers #1
- Autor: Rachel Ward
- Editora: ID
- Comprar: Saraiva, Travessa
- No Skoob
Minicrítica ~ Resumo:
Numbers é um livro que me conquistou pela sinopse, porque o enredo parecia ser rico e tremendamente curioso. Eu acabei comprando o meu exemplar na Bienal de 2011, mas por algum motivo não tinha lido até agora. De qualquer forma, a história é sobre Jem, uma menina de 15 anos que tem o dom de prever a morte das pessoas. Mas não prever do jeito que você está imaginando. É muito mais automático e fora de controle: assim que Jem olha para alguém, ela vê em seus olhos números que formam uma data. Essa data é a o dia da morte. Simples e direto, desagradável de muitas formas.
Mas esse livro foi um amontoado de paradoxos que eu estou tentando entender (e engolir). Na verdade, acho mesmo digno dizer isso antes do pulo só pra você, caro leitor, dar uma oportunidade real ao post.
Enfim, como eu disse, eu comprei o livro na Bienal de 2011. Na época, a história vinha cheia de promessas, e eu estava louca para conferir com meus próprios olhos. Então, diante de apenas dois exemplares disponíveis do estande da ID, lá fui eu pro caixa, sorrindo diante da minha sorte: afinal, eu tinha conseguido um antes de acabar! Vitória!
Só que não. |
Como eu disse, o livro é sobre Jem, a menina que prevê mortes. Jem é órfão, e vive pulando de casa em casa sob a custódia do serviço social, e acaba indo parar no lar de Karen, uma mulher de meia idade que não se importa com o fato de Jem já ter arranjado problemas demais durante a vida. Na verdade, acho que Jem sempre foi como uma pseudomarginalzinha que só se tornou uma pseudomarginalzinha porque acreditava que era uma. Mais ou menos isso. Sério, gente, é um personagem que me irritou não pela história triste, nem nada disso, mas porque ela parece uma menina mimada e rebeldezinha SEM causa, que na verdade tem 13 anos, e acha que o mundo conspira contra ela, incluindo pessoas que estão claramente a seu favor, como a própria Karen.
MAS ENFIM. Jem então – finalmente – faz um amigo. Spider, um menino que também se sente excluído da sociedade, mas por ser... negro. Até aí tudo ótimo, tá tudo passável, embora Spider tenha a data da morte prevista para apenas um mês depois e seja alguém envolvido com drogas - além de fumar que nem um maníaco (aos 15 anos) só por se sentir... excluído (ou só para se sentir assim). Eu até entendo que alguns adolescentes têm problemas sociais graves, mediante bullying (que aliás é um tema realmente sério), mas a autora não consegue sustentar isso. Há algum bullying, não vou negar, mas os argumentos para embasar as atitudes dos dois não me são nem de longe plausíveis. Parece tudo muito fraco e mal estruturado.
A coisa piora quando Jem, acompanhada de Spider, vai a um parque e percebe que várias pessoas ali têm a mesma data estampada nos olhos. Jem então se desespera e convence Spider a sair correndo com ela. Na sequência, os dois, de longe, veem uma explosão, que mais tarde é classificada como um atentado. A partir daí, os argumentos levantados pela autora são, no mínimo, forçados. A polícia estaria atrás de dois jovens que teriam saído do lugar minutos antes de a bomba explodir, e SÓ POR ISSO, Jem e Spider decidem fugir como dois criminosos, atravessando bairros e mais bairros, roubando carros, fumando que nem dois viciados, falando palavrões* e tendo diálogos que parecem mais encher linguiça do que qualquer outra coisa. Tudo para não serem pegos pela polícia (isso porque eles não fizeram nada, notem bem).
*Vi muita gente falando que os palavrões apareceram em excesso, mas eu achei isso um ponto positivo, porque é exatamente assim na vida real, não importa se eles têm 15 anos ou 20.
aham, aham. |
Na minha sincera opinião, Jem é um personagem, além de irritante, verdadeiramente burra. Exatamente como Spider. Os dois brigam e fazem as pazes por causa dos motivos mais infindáveis possíveis. A tradução, que deixa diversos rastros de incoerências e coesões falhas, me fez questionar se não seria algo advindo da própria autora, e não da editora. Eu não sei nem mesmo se eles correram para lançar o livro na Bienal e por isso aconteceu o que aconteceu. De qualquer forma, está bem longe do ideal.
Numbers poderia ter sido muito melhor do que foi. Há uma tentativa quase desesperada de se defender minorias, um ideal que se perde no meio de tantos erros. A ideia é sensacional, a coisa com os números e as datas. Porém, infelizmente, ela foi muito mal aproveitada. A trama é tendenciosa, muitas vezes inexplicável e personagens que conseguiriam se sustentar sozinhos – como a própria Val, avó de Spider – não parecem ter tido a atenção merecida.
Apesar de tudo isso, eu acho que o livro ganhou um ponto extra pelo final. Embora seja mais ou menos previsível (depende do que você percebe durante a leitura), o desfecho me agradou muito. Muita gente vai dizer que foi mais um golpe de marketing, mas não entendo dessa forma, não chega a ser como o final de Dezesseis Luas (que na minha opinião nem final foi). Numbers termina instigando o leitor, incentivando à curiosidade. Aliás, me atrevo a dizer que passei o livro todo tendo a certeza de que não compraria o segundo, mas mudei de ideia no último capítulo (que aliás foi quando a coisa melhorou exponencialmente, inclusive em questão de escrita/tradução/revisão).
Ouvi dizer que no segundo é onde acontece a verdadeira história, e que o primeiro foi apenas uma apresentação. Espero realmente que aconteça dessa forma. Aguardemos.
Sobre a nota: vou dar 3,5 porque, embora tenha havido uma série de problemas (que me fariam dar um 2,5, por exemplo), é um livro que te prende a todo momento e tem um final ótimo.
(3,5/5 conversinhas)
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