Camões carnaval

Discussão: E o fim da poesia, quedê?

13.2.13Igraínne


Olá, pessoas lindas conectadas ao ConversaCult! Como andam? Estão bem? Com sono? Fome, tédio? Andou refletindo sobre coisas demais hoje? Não? NÃO? Impossível. Im-pos-sí-vel. Afinal de contas, todo mundo fica todo dia pensando sobre coisas aleatórias, como quando toca uma música legal ou quando tá passando o Carnaval na rede Globo de televisão. Mas você refletiu sobre outros assuntos  no dia de hoje? Coisas como o fim da poesia, por exemplo, quem sabe?

O que seria será de nós sem ela (quase oxigênio -nn)???

Mas o post não é sobre isso, embora você, lindo leitor, estivesse (ou esteja) esperando por algo mais simbólico e bonitinho de se ler. O post de hoje talvez nem seja bonito, se você olhar por um certo ângulo.

Eu tinha muito isso de ser escritora de gaveta - quem nunca? - e por conta da onda incrível e enlouquecedora do Clube de Escrita, algumas coisas me vieram à tona por simples suposição. Quer dizer, a maioria de nós escreve histórias em prosa. 

E dá pra contar histórias de outro jeito? 
Dá.

Quero dizer, hoje em dia poesia nem regra tem, o que diferencia é a simples marcação de versos, porque texto corrido percorre (evidentemente) a linha toda, né, pessoinhas? Mas o que eu estou tentando dizer é que esqueceram da poesia. Escritores de gaveta ou não, todos nós sempre acabamos colocando nossas ideias no papel no formato convencional.

E o Harry Potter não poderia receber sua carta de boas vindas à Hogwarts por uma poesia? E nós, lindos leitores inspirados no que lemos, não poderíamos comprar poesia da maneira que compramos os livros de texto corrido?

>> A poesia da Melodia no Dia a Dia... Você faria?
Em tese, todo enredo pode ser transformado em poesia, em estrofe. Fiquei com isso na cabeça nesse Carnaval, principalmente. O enredo de cada escola é transformado em samba que, antes de mais nada, é história rimada, estruturada, ritmada. E esse samba conta uma história, não?

É aí que chegamos ao ponto: música!!! Quero dizer, música é música né, gente, é meio óbvio. As rimas, o refrão, as notas, tudo isso parte de uma coisa mais bruta que chamamos de poema. Se toda música é poema, todo poema é música? Então todo compositor seria algum tipo de criador requisitado pelas gravadoras. A Sandy, por exemplo, fez faculdade de letras e na prática só compõe (até porque ela tem renda pra três gerações, não precisa se preocupar em dar aula, né minha gente?)

Mas e você? Você escreve poesia, você escreve música? A melodia de cada passo que você dá - mesmo que seja só até a cozinha para pegar um copo d'água - você já pensou em transformar isso em algum tipo de arte, seja ela cantada ou lida? Eu acho que qualquer coisa dá pra transformar em poema, qualquer coisa. É só sentar e escrever, deixar sair no jorro, de uma só vez. Sem se preocupar com rima (ou se preocupar, aí é com você, cada um tem um jeito).



>> A recepção
E você compraria? Porque assim, há uma avalanche de fenômenos literários que lotam todas as prateleiras de qualquer livraria. E nenhum desses best sellers é escrito em verso. Não estou dizendo que poesia não está à venda, mas sim que poesia não vende. Há uma enorme diferença.

Eu tenho a sensação de que a cada dia menos há espaço para esse tipo de coisa no mercado editorial. Não porque não é uma coisa boa, bonita, não que não seja arte - acho que é até mesmo a arte mais bruta que existe atualmente, menos poluída para fins comerciais - mas o fato é que não vejo jovens, adultos ou crianças parando na parte de poesia em vez de parar na parte de ficção. E desde quando uma coisa exclui a outra, não é mesmo?

É aquela velha história de que o dinheiro tem acabado com a poesia. Hoje em dia o poema se voltou para ele mesmo, os versos que escrevemos não são mais publicados, e sim engavetados. Nós preferimos prestar atenção a outras ideias que temos durante a noite: a ideia da narrativa. Porque estamos acostumados a ela. É mais fácil, mais convencional, está tão incorporada que escrever uma grande aventura de outro modo não é nem uma possibilidade.

Afinal de contas, a aventura em poema mais famosa que existe é "Os Lusíadas" de Camões, e sabemos que não vamos ler um fenômeno do tamanho de Harry Potter em forma de verso nos dias atuais.

A pergunta inicial do post, a que dá título a tudo isso ("E o fim da poesia, quedê?) me faz pensar em um fim anunciado. Um fim que já chega nas livrarias quando cortam a sessão de poesia para dar vazão aos novos livros de enredo erótico e sadomasoquista. E, ao mesmo tempo, essa mesma pergunta me fez perceber que, embora tenha um fim anunciado, a poesia não vai sumir, ela só vai sofrer alterações. O tumblr é uma rede social que defendo bastante, não por ser uma usuária assídua, mas porque lá as pessoas escrevem poesia. E poesia do tipo que eu estou falando. Aquela que está viva de verdade.


Mas a pergunta em si ainda está em aberto. Você acha que a poesia vai acabar? Como o nome já diz, é uma discussão, queremos a sua opinião! Comente!

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4 comentários

  1. Igra, vou ter que confessar, às vezes você até que faz um post legal... HUAH brinks. Essa discussão ficou muito boa.

    A minha opinião final? Não, a poesia não vai acabar. Também não acredito que ela esteja acabando. Acho que a situação é diferente, uma questão de perspectiva.

    Existe menos poesia do que "livro comum".

    O que não significa que esteja passando a ter menos. Aliás, é até pelo contrário: não é poesia que está diminuindo, é a prosa que está crescendo. Então a impressão é de que quase não tem espaço pra isso, no meio de tanta quantidade do outro.

    Por outro lado, o nosso estilo de vida - pelo menos no Brasil - não dá muita abertura para poesia. Não do modo tradicional. Só na escola e escola fica marcado como ruim.

    Se você for pensar, outro motivo é que o público leitor brasileiro é relativamente jovem. Só agora a prosa está tendo mais destaque como algo popular.

    Acho que você falou bem:
    "Não estou dizendo que poesia não está à venda, mas sim que poesia não vende."

    Cá entre nós, o mercado editorial brasileiro não sabe muito vender, só colocar à venda. Então complica mais ainda a popularização de poesia como produto

    E, ao mesmo tempo, ela toma conta da internet sem as pessoas nem saberem que aquilo é poesia.

    Esse texto me fez lembrar do livro "Garotas de Vidro" (acho que é esse nome, tem resenha aqui no CC), que às vezes a prosa vira poesia. É até melhor pra expressar a situação da personagem, mas muita gente nem percebe e acha o livro estranho por isso.

    Vou parar por aqui. Muito bom o texto, melhor só se você fizesse em poesia. -nnnnnnnnn

    ~dana

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  2. Post bacana. Não acho que a poesia vá acabar, apesar de haver cada vez "menos espaço" para ela em comparação a narrativas ou mesmo ao modismo erótico nos livros. Acho que a poesia se reinventa, sempre. Ela está e estará sempre aí, ao alcance de todos, ainda que somente uns poucos irão de encontro a ela. Quando a gente quer, a gente sempre acha. E quando a gente se interessa por algo, esse algo passa a brotar perante nossos olhos, como "mágica", ou simplesmente efeito de uma atenção mais focada.
    Eu gosto de poesia, mas confesso que não tenho o hábito de lê-la. Também gosto de cordel, mas não tenho nenhum na estante. O porquê, não sei dizer. Talvez porque são livros para os quais tenho os meus momentos, que nem aquela vontade que vem de repente de comer algo que a gente num sabe o que é. Poderia virar hábito? Sim, poderia. Geralmente, leio trechos de poesia nas livrarias mesmo, enquanto caminho entre uma estante e outra, são livrinhos que se esgotam rápido nas mãos de leitores ávidos, e isso acho que acontece com todo "bookaholic". Mas uma coisa é fato: seu post me deixou pensando sobre poesia, e me deu mesmo vontade de ler.

    Um bjo,
    Livro Lab

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  3. Apesar de não ser muito chegado em poesia - apedrejam-me - reconheço quando um poesia é boa. É claro que faz muito tempo que não leio poesia, por que sempre encontro poesias que são muito rebuscadas e complexas, mas eu acredito que a poesia não acabará. A poesia muitas vezes está na músicas - apesar de poucas vezes bem empregada - mas a poesia é algo que nunca irá acabar, mesmo que deixada de lado. Tenho um a amiga que é louca por poesia, e um colega que só lê livros de poesia - apesar de ser livros de poesia infantil... - Enfim, uma coisa é certa, a poesia não está sendo tão cuidada como era antigamente...

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  4. Primeiro parabéns pela reflexão proposta por esse post. Não é todo blog que se preocupa em analisar um fato tão importante na literatura.

    Assim como outras coisas, a produção literária está passando por mudanças para se enquadrar aos novos meios, tanto no meios como é entregue ao leitor quanto o que é produzido.

    A qualidade de ensino não é umas das melhores características brasileira. A poesia nos é passada como algo do passado feita por pessoas que já estão mortas em sua maioria. Poucos são os professores que conseguem fazer com que seus alunos se encantem pelas história em versos.

    Essa falta de interesse se reflete nas livrarias. Por que dar destaque aos versos de poetas que são apenas procurados por leituras obrigatórias escolares enquanto meu publico quer comprar (ou acha que quer) o best seller sadomasoquista do momento.

    Em contra partida, as redes sociais tem dado uma outra cara para a poesia. Além de compartilharem versos de autores consagrados, ainda há espaço para quem quer espalhar pela rede os seus próprios versos.

    http://monopapo.blogspot.com.br/

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