Recentemente li duas graphic novels (em tradução
literal, ‘romances gráficos’) e quando eu estava pensando se faria resenha
delas ou não percebi que ambas eram do mesmo estilo, autobiografias. Resolvi,
então, fazer um post falando sobre cada uma e comparando-as.
Acho que o nome “graphic novel autobiográfica” já
diz tudo sobre o que elas são, mas eu explico da mesma forma: são livros em que
o autor conta graficamente a sua própria vida, muitas vezes escolhendo um certo
lado ou assunto no qual foca. Esse é um estilo de graphic novel que eu desconhecia
completamente até pouco tempo atrás, muito provavelmente por que não são muitas
publicadas no Brasil e também porque as graphic novels no geral são pouco
divulgadas.
Bom, as duas que eu li e que eu vou comentar hoje, “Persépolis” (imagem) e “Retalhos” foram publicadas pela Companhia das Letras, editora que também tem
outros livros do estilo publicados. Para ler sobre esses dois livro clique em “Continue
Lendo”. ;)
Persérpolis,
de Marjane Satrapi
“Persépolis” traz, obviamente, a vida de Marjane. A
graphic novel conta a vida da Marjane desde a sua infância, ainda vivendo no
Irã, até ela já adulta, quando vai embora de vez do seu país natal. Marjane
nasceu na época antes da Revolução Iraniana, então conviveu com muitos
conflitos sociais e até mesmo a Guerra Irã-Iraque.
A família dela era de esquerdada, portanto, vemos a
influência dos ideais modernos na Marjane e o humor negro é um elemento muito
usado pela autora para deixar isso explícito, principalmente na infância dela.
Chega um momento em sua adolescência em que ela vai estudar no Liceu Francês em
Viena, onde passa quatro anos, e ao voltar ela se depara com as mudanças
sofridas pelo país.
A Marjane começa a estudar artes e na faculdade vemos
bastante do conservadorismo, como, por exemplo, os alunos terem que desenhar uma
modelo com o corpo coberto da cabeça aos pés, impedindo-os de ver as formas. E
a faculdade é também o local onde ela conhece um homem por quem se apaixona, se casa e logo depois se separa.
Os traços de “Persépolis” são bonitos e também bem
simples, quase sem detalhes - o que funcionou para o que é o livro.
Originalmente foi publicado aqui no Brasil em quatro volumes, mas já há um
volume único. A Marjane tem também outros dois livros publicados, “Frango com
Ameixas” e “Bordados”. Eles não são histórias especificamente da vida dela e
sim de familiares. O primeiro, por exemplo, conta a história de um tio avó
dela. Eu já o li e confesso que gostei mais até do que de Persépolis, entrando
para os meus favoritos. Ele é bem fininho e como diz a quarta capa é “uma
história de morte, vida e muita reflexão”. Já o segundo eu ainda não tive a
oportunidade de ler, mas de acordo com a sinopse são histórias de grupos de
mulheres do Irã e suas “fofocas”, os chamados “bordados”.
Há uma adaptação cinematográfica de Persépolis e ela
é em desenho mesmo, com o mesmo traço do livro. Eu ainda não tive a
oportunidade de assistir, mas ouvi dizer que tem até cenas que não estão no
livro. O filme parece ser realmente bom porque ele foi até indicado como melhor
filme de animação do Oscar 2008, perdendo para o divertido “Ratattouille”.
“Frango com ameixas” também teve uma adaptação cinematográfica em live-action,
lançada no ano passado.
Classificação:
“Retalhos”,
de Craig Thompson
Primeiramente tenho que dizer que “Retalhos” é
completamente diferente de “Persépolis”. Não que isso seja ruim, cada um é bom
da sua maneira. Primeiro porque a vida o Craig é bem diferente da Marjane,
principalmente por viverem em países distantes e culturas beeem diferentes. E
também porque “Retalhos” tem muito mais um lado filosófico e nos faz refletir
bem mais que o livro da Marjane.
“Retalhos” traz, sim, a vida do Craig, mas de forma
diferente de “Persépolis”, até porque acredito que a intenção dos autores é
diferente. A intenção da Marjane, como ela disse e eu li em uma entrevista (eu
acho que foi uma entrevista, não lembro exatamente onde eu li isso), era
contar a vida dela, tudo o que ela passou e explicar a situação política e
social do Irã pros seus amigos franceses, e a melhor forma de fazer isso era
através dos seus desenhos. Já a de Craig dá para perceber que era mais contar
uma fase da vida e, dando um pouquinho de spoiler, do seu afastamento de Deus.
Craig nasceu em uma região rural do Michigan, Estados
Unidos. A família dele era bem pobre e no livro vemos um pouco da influência
disso em sua vida. Ele era bem magrinho e usava roupas velhas, o contrário dos
outros alunos, que tinham condição financeira melhor e eram mais corpulentos, e
por isso* sofreu bullying durante toda a sua vida escolar.
*como se algo justificasse o fato de alguém sofrer
bullying...
Como vocês devem ter percebido, o traço de
“Retalhos” é bem mais detalhado do que o de “Persépolis” e isso permite que o
autor faça desenhos mais subjetivos e mais bonitos até.
“Retalhos” desde o começo carrega essa coisa mais
filosófica e para reflexão. Confesso que até metade eu não sabia se
estava gostando ou não do livro. Mais para o final eu percebi que estava
gostando, sim, e eu aprendi muita coisa dele. É um daqueles
livros que eu sei que se pegar daqui a alguns anos para reler vou receber ainda
mais coisas dele, por isso, mesmo que eu tenha gostado mais da história da vida
da Marjane Satrapi, “Retalhos” leva 5 conversinha.
Classificação:
(5/5 conversinhas)
Eu só li essas duas graphic novels autobiográficas,
mas, como disse no início do post, a Cia. Das Letras com seu selo Quadrinhos na
Cia. tem mais algumas, como “Maus”, de Art Spieglman e “Adeus tristeza – a
história dos meus ancestrais”, da Belle Yang. A LeYa também tem “Cicatrizes”,
de David Small.
Ah, uma dica se você estuda em uma escola pública
(seja ela federal, estadual ou municipal), procure na biblioteca “Persépolis” e
“Retalhos”. É uma boa dica porque esses dois livros são um pouquinho mais caros. Eu os li alugando-os na biblioteca da minha escola e ambos fazem parte
daqueles livros que o Ministério da Educação envia todo ano. Aproveitando, vale
a pena pesquisar outros livros também, tipo, eu li “Os 13 Porquês” emprestado
da biblioteca e ele também foi enviado pelo governo.
Enfim, é isso. Espero que tenham gostado do post!
Por favor, comentem se vocês já leram esses dois livros, o que acharam, etc. e
também me digam se já leram alguma graphic novel, se ela autobiográfica ou não.
Até a próxima! o/
- paulo v. santana
TAGS:
autobio,
autobiografias,
CCHQ,
CCLivros,
cia das letras,
craig thompson,
graphic novel,
livros enviados pelo governo,
marjane satrapi,
Paulo V. Santana,
persépolis,
retalhos
5 comentários
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirGanhei Retalhos em uma promoção e mexeu muito comigo. Aconteceu o mesmo comigo. Até no meio do livro tava okay, mas no final o quanto eu absorvi dele. Os desenhos são maravilhosos. Li a resenha da Kari no NUPE e adorei. Fiquei encantada com a história e tratei logo de procurar nas livrarias, mas não achei D:
No meu colégio, eu já olhei e não tem. Uma pena porque são bem caros mesmo :(
Beijos
Nathalia Duarte
www.mentalmorfose.com
É, Retalhos é mais para reflexão mesmo. Se você vai só para "saber" a vida do autor pode acabar se decepcionando. E sério que você não achou "Persépolis" nas livrarias? '-' Hoje mesmo eu vi 3 exemplares em uma Saraiva e tinha até uma edição em francês (que custava R$ 182!). Obrigado pelo seu comentário!
ExcluirOlá!
ResponderExcluirÓtimo post, duas belas escolhas em graphic novels autobiográficas.
Li Persepólis da Cia. das Letras e gostei muito, fiz resenha em meu blog, inclusive. Já Retalhos comprei numa edição no original, Blankets, e está aqui esperando para ser lida.
Desconfio de que eu vá gostar muito mais da segunda, pelos aspectos filosóficos e, claro, pela riqueza do traço, dentre muitas outras coisas...
Abraço!
Persépolis é muito bom mesmo! E qual é o link do seu blog? Na próxima vez deixa ele aqui para eu dar uma olhada! ;)
ExcluirObrigado pelo comentário!
Ignora o fato de eu ter pedido o link do seu blog, depois que vi que clicando no seu nome entrava nele, hahaha.
Excluir