No nosso primeiro dia aqui você conheceu as toalhas, no segundo a trilogia dos cinco e agora... vai conhecer o sexto livro escrito depois da morte do Douglas Adams. Se você está meio confuso, é que anos depois da morte do autor de "O Guia do Mochileiro das Galáxias" foi lançado mais um livro da trilogia, chamado "E Tem Outra Coisa" ("And Another Thing", como você pode ver ali em cima). Esse livro foi escrito, na verdade, pelo
autor da série “Artemis Fowl” (Galera Record), Eoin Colfer, com a autorização dos
herdeiros de Douglas Adams. Hoje vamos nos dedicar a falar sobre se esse sexto livro é um sexto livro ou uma fanfic impressa de gente famosa, além de explicar sobre o que é.
O título e as aspas em "sexto"
A primeira coisa que eu queria
comentar sobre o livro é o título. Como eu disse no último post, os títulos dos
cinco primeiros livros são frases ou nomes citados no primeiro livro, mas “E
Tem Outra Coisa” saiu de uma citação do terceiro livro, “Até mais, e obrigado
pelos peixes!”. A escolha do Eoin Colfer
foi simplesmente genial e ela já te dá uma dica do que esperar do livro.
“A tempestade agora havia realmente enfraquecido e, se ainda havia sobrado algum trovão, estaria agora roncando sobre colinas mais distantes, como um homem que diz “E tem outra coisa...” vinte minutos depois de admitir que perdeu uma discussão.”
Se já há uma polêmica em relação
a “Praticamente Inofensiva” ser o quinto livro da série ou um livro a parte,
imagine com “E tem outra coisa”. Ao longo do post vou chama-lo sim de “sexto
livro”, porém, para mim e para a maioria dos fãs, ele não merece essa
classificação. O engraçado é que o livro foi concebido como uma “homenagem ao
Douglas e aos fãs da série”, mas os fãs não se sentiram nem um pouco felizes
com ele e, principalmente, por ele ter sido jogado para nós como o “sexto livro
da trilogia”. Como disse uma amiga minha, se era para fazer uma homenagem
porque não fizeram uma antologia com vários autores legais?
A história
[ATENÇÃO: PODE CONTER SPOILERS DOS
CINCO LIVROS DA SÉRIE]
No fim de “Praticamente
Inofensiva” temos o fim da Terra em todas as suas dimensões e, com isso,
Arthur, Random, Trillian e Ford, que estavam na Terra, morreram também – ou
não. Logo no início de “E Tem Outra Coisa” descobrimos que a versão II do Guia do Mochileiro das Galáxias (que é
extremamente interativa - ela é até em forma de pássaro – e foi criada por outra
corporação, a InfiniDim) ao ver que os nossos “heróis” iam morrer criou uma
realidade alternativa na mente de cada um deles, que seguiram suas vidas em
frente. Random se tornou a Presidente da Galáxia; Trillian continuou na carreira
de repórter e seu corpo sofreu com isso (leia-se: muitas, muitas, muitas
cirurgias plásticas); Ford vivia o paraíso de todo betelgeusiano típico: noites
intermináveis em hotéis cinco supernovas, com massagens, festas, garotas das
mais variadas espécies e bebendo apenas Dinamite Pangaláctica; já Arthur vivia
em uma ilha deserta bebendo apenas chá, a vida dos sonhos de todo inglês típico.
Porém, esses “sonhos” são
subitamente encerrados e eles voltam para o momento do fim da Terra. Preparados
para finalmente morrerem, o inesperado acontece: Zaphod aparece em sua nave, a
Coração de Ouro. Porém, isso não era o bastante para salvá-los e com mais uma ajuda da improbabilidade, Wowbagger chega à Terra na nave que roubou de Thor
(sim, o do martelo!). Para quem não se lembra, Wowbagger, o Infinitamente
Prolongado é o alienígena que aparece logo no início de “A Vida, o Universo e
Tudo Mais”, aquele que tem como objetivo de xingar todos os seres vivos do
Universo (e em ordem alfabética!).
O que move a história é a simples
palavra “bundão”. Sim, é disso que Wowbagger xinga Zaphod, o que deixa o
presidente irritadíssimo. Zaphod deseja matar Wowbagger, que também deseja ser
morto, porém, ele é imortal. A solução encontrada então é Thor, o deus
asgardiano que é também um velho amigo de Zaphod. A ideia é que ele mate Wowbagger e o deus
aceita, pois sua reputação está negativa depois que um certo vídeo caiu na
Subeta Net (e um vídeo dele matando um imortal poderia trazê-lo de volta à
popularidade).
[FIM DOS SPOILERS]
Análise
Vocês viram no último post que eu
amei os cinco primeiros livros, mas o mesmo não posso dizer do sexto. O livro
não é ruim, mas é meio forçado.
Quando o peguei para ler eu já esperava algo diferente por ter sido escrito por
outro autor, etc. e minhas expectativas para o livro eram nulas e isso foi bom
porque não tive nenhuma surpresa desagradável.
O principal problema de outro
autor continuar escrevendo os livros de uma série é o ponto de vista. “E tem
outra coisa...” traz o POV do Eoin sobre os personagens e não mais o do
Douglas, obviamente. Em minha opinião isso foi o pior do livro, parecia que os
personagens não estavam nos seus tons certos, como se eles fossem uma estação
de rádio mal sintonizada. Vi um Arthur muito “abobalhado”, uma Random chatinha
e ainda mais birrenta (falando nisso, viu nosso post sobre as mães da literatura?
Falamos da relação Random/Trillian.) e uma Trillian quase com uma personalidade
de uma Trillian de outra realidade.
Uma coisa que eu gostei bastante foi
o resgate de Wowbagger para a história, um personagem que gostei muito já na
sua curta aparição e completou a história (mas o tempo inteiro eu imaginava
como seria se o Douglas o tivesse desenvolvido melhor). Já que estou falando
dele, preciso dizer que odiei com todas as minhas forças o casal que o Colfer
fez, [SPOILER] Trillian/Wowbagger é muito bizarro,
compreendo a aversão que a Random teve no início. [/SPOILER]
As críticas presentes nos livros
anteriores também estão em “E tem outra coisa...”, porém o Colfer as deixou de
forma mais explícita. Por exemplo, o pequeno planeta Nano que foi comprado por um grupo de terráqueos
antes da destruição de seu planeta natal e para onde eles se mudaram. Como a
população está se organizando no planeta recém-habitado, vemos muitos
problemas caindo na mão do seu ‘governante’ (que, inclusive, é o homem que
aparece na capa do livro). E todos eles são uma forma de crítica à sociedade em
que vivemos hoje. O que mais é desenvolvido é a falta de um deus, uma divindade
na qual a população possa se “prender” - vemos aí uma gigantesca crítica à
religião e à crença das pessoas.
O Colfer também usou um artifício
muito chato no livro: as notas do
Guia. Eram trechos inseridos no meio da história que explicavam algo ou
contavam uma história. A maior parte deles é completamente desnecessária, poucos
eu achei engraçados ou realmente foram úteis para a leitura e teve um momento
do livro que passei a pular alguns (se quiser, faça o mesmo, porém você estará
pulando praticamente metade do livro).
Espere, devo ou não ler o livro?
Bom, isso parte de cada um, mas
se você leu os cinco livros da série e os amou e tal e quer manter a imagem das
coisas do jeito do Douglas Adams, minha dica é que não leia. Mas, se você
quiser experimentar a história por um novo ponto de vista, o livro é uma boa
pedida.
Até mais, e obrigado pelos peixes! o/
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2 comentários
O fim de Praticamente inofensiva é fantástico, para mim não tinha como continuar nada de lá. Acabou e ponto. Por isso ignorei totalmente E tem outra coisa até saber que o Adams pretendia mesmo escrever mais um para a série.
ResponderExcluirE, ao contrário de muita gente, eu não me incomodei com o lançamento desse novo livro. Vejo-o mais como uma fanfic mesmo; ainda não li, mas pretendo considerar parte da história se gostar. Se não, trocarei ou venderei o exemplar e o ignorarei. :D
Se bem que a vontade de pegar esse livro é pouca, não só pelas críticas mas também por ser do Colfer. Não gostei de Artemis Fowl, aí fiquei com o pé atrás. E um Arthur ainda mais abobalhado não me agrada muito :/
Já li os cincos livros da série e adorei, quando comprei o "sexto" estava com um pé muito atrás... mas achei um tanto quanto digno! Curiosa por ter gostado da história mesmo sem ter fé nenhuma no Colfer, fui pesquisar mais a fundo sobre o livro, e descobri que GRANDE parte do conteúdo foi escrito pelo próprio Adams, Colfer foi autorizado mais para finalizar, pois o grosso do conteúdo já havia sido escrito...
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