por Dana Martins
- Autora: Isabel Allende
- Editora: Bertrand
Mini-crítica:
Uma mistura de Sidney Sheldon com Nora Roberts de um jeito mais latino, "O Caderno de Maya" é sobre uma garota de 19 anos que vai parar em uma ilha do Chile fugindo até do FBI. Nesse período de isolamento, ela escreve em seu caderno sobre sua rotina na aldeia e memórias de seu passado obscuro. O que nós lemos é esse caderno. Porém, em nenhum momento nos sentimos fora da história e vamos dando passos junto com Maya que começa a entender o próprio passado. "Achei interessante que é um livro que trata de temas parecidos com os YA, mas acaba misturando um pouco de tudo e dando um tratamento mais adulto e recheado."
Quer saber mais? Clique abaixo para conferir a resenha completa.
Contexto: quem é Isabel Allende?
Só para dar um contexto, eu fui ler esse livro sem saber de nada. Eu tinha uma vaga (extremamente vaga) ideia de quem era Isabel Allende, não saberia citar nenhum título de livro dela e esse eu conheci praticamente tropeçando nele em uma livraria. A capa de alguma forma me chamou atenção, o nome e a história também. Decidi que ia ler e... bem, eu li.
Se você não quer começar também "voando", saiba que Isabel Allende é nascida no Peru, viveu no Chile e agora mora nos EUA. Ela é jornalista e escritora, é uma das "revelações latino-americanas da década de 80" e a ditadura do Chile que derrubou o governo de Salvador Allende (primo de seu pai) acaba retornando de uma forma ou de outra em suas obras, como acontece em "O Caderno de Maya". Para você ter ideia, já tem até filme baseado em livro dela, como "A Casa dos Espíritos", que conta com duas das indicadas ao Oscar de Melhor Atriz esse ano: Meryl Streep e Gleen Close.
"O Caderno de Maya" é um desses livros que contam a história da vida de alguém para explicar o momento presente e você entender a superação de algum conflito. No caso, Maya está escrevendo em um caderno sobre os seus dias entediantes isolada em Chiloé (um lugar no meio do nada no Chile, vivendo em uma aldeia) e começa a rever tudo o que aconteceu em sua vida até o ponto em que precisou fugir dos EUA por estar sendo perseguida até pelo FBI.
O livro se sustenta em três pontos: o passado, o presente e a narração. Começando pelo último, o modo de escrita da Isabel Allende me fez lembrar do que é realmente ser escritor. Ela consegue dar tantas cores à história só com palavras, que é até surpreendente. Em certo ponto eu percebi que lia pensando em vozes diferentes para os personagens, até diferenciando a voz da própria Maya criança para a atual (que tem 19 anos).
Já a segunda base é o presente, o que vai acontecendo com a Maya conforme ela passa os dias na ilhazinha. Ficamos sabendo sobre a cultura local (muita coisa, aliás - supertições, costumes...), sobre as pessoas que vivem ali e como ela consegue se adaptar a esse novo mundo.
E, a principal base, o passado. Não só o de Maya, mas tudo o que aconteceu antes e ela acha importante contar. Ela conta dos avós, com quem viveu. É difícil não gostar, ou pelo menos não rir, com a avó dela. Ficamos sabendo de antes dela nascer, da infância dela, da adolescência e de dois períodos seguintes importantes.
É claro que tanto o passado quanto o presente estão interligados, com coisas de uma época que influenciam nos acontecimentos da outra. Isso é até por causa do controle cuidadoso da Isabel Allende com a forma que ela dá informação. Você começa não sabendo nada, mas a Maya do presente sabe de tudo. Porém, ela não adianta nada e certas informações só vão sendo usadas no presente depois que você descobre no passado.
Não foi um livro de leitura lenta, mas também não foi do tipo viciante. A autora consegue equilibrar bem a curiosidade, mas como a narrativa é muito construída (como uma casa extremamente decorada), você acaba indo um pouco mais devagar e, para muitos, aposto que vai ser entediante. Se você não se interessar pela cultura do lugar, vai ser difícil passar pelas partes sobre as supertições, sobre o escambo que existe entre os moradores ou aceitar uma explicação sobre o abuso sexual lá. Além disso, o livro tem o contraste com a vida no passado e nos EUA, que por si só se abre em vários momentos que tratam de assuntos diferentes. É quase como vários livros (de climas diferentes) completando uma trama só.
No geral, eu gostei bastante, porque me mostrou várias informações sobre lugares que eu não conhecia, até mesmo os EUA. Eu também adorei os personagens, que são muito bem montados, com várias nuances e características diferentes (você fica até imaginando a história deles). Também não acredito que todo livro tem que ser 100% viciante para ser bom.
Indico para...
Eu não indico para as pessoas mais novas, porque provavelmente não vão gostar tanto. A partir dos 16 a chance é de aproveitar mais e, usando a metodologia da Suzanne Collins, 19 anos é o ponto-referência para idade do público. Mas qualquer um acima dessa idade pode aproveitar mais do que alguém abaixo. O livro é uma mistura de Sidney Sheldon com Nora Roberts de um jeito mais latino, então qualquer um que goste desses tipos tem chances de gostar de "O Caderno de Maya". Ah, e qualquer um curioso por natureza e com mente aberta.
O Caderno de Maya vs. Litaratura YA
Achei interessante que é um livro que trata de temas parecidos com os YA, mas acaba misturando um pouco de tudo e dando um tratamento mais adulto e recheado. A Maya, de cara, me fez lembrar da Thalia Grace de Percy Jackson, mas foi mostrando que é muito mais (não que a Maya seja melhor que a Thalia, é só que o Rick Riordan não aprofundou os personagens assim). Também teve momentos que falou da cultura local e me lembrou a Harry Potter. E me lembrei de Jogos Vorazes quando falou sobre da ditadura do Chile, que dá para fazer uma conexão direta (e se você achava Jogos Vorazes cruel....).
E não é só nisso que fica a comparação. Se você pegar a base: uma pessoa tentando encontrar o seu lugar no mundo; dá no mesmo.
Só para dar um contexto, eu fui ler esse livro sem saber de nada. Eu tinha uma vaga (extremamente vaga) ideia de quem era Isabel Allende, não saberia citar nenhum título de livro dela e esse eu conheci praticamente tropeçando nele em uma livraria. A capa de alguma forma me chamou atenção, o nome e a história também. Decidi que ia ler e... bem, eu li.
Se você não quer começar também "voando", saiba que Isabel Allende é nascida no Peru, viveu no Chile e agora mora nos EUA. Ela é jornalista e escritora, é uma das "revelações latino-americanas da década de 80" e a ditadura do Chile que derrubou o governo de Salvador Allende (primo de seu pai) acaba retornando de uma forma ou de outra em suas obras, como acontece em "O Caderno de Maya". Para você ter ideia, já tem até filme baseado em livro dela, como "A Casa dos Espíritos", que conta com duas das indicadas ao Oscar de Melhor Atriz esse ano: Meryl Streep e Gleen Close.
"O Caderno de Maya" é um desses livros que contam a história da vida de alguém para explicar o momento presente e você entender a superação de algum conflito. No caso, Maya está escrevendo em um caderno sobre os seus dias entediantes isolada em Chiloé (um lugar no meio do nada no Chile, vivendo em uma aldeia) e começa a rever tudo o que aconteceu em sua vida até o ponto em que precisou fugir dos EUA por estar sendo perseguida até pelo FBI.
O livro se sustenta em três pontos: o passado, o presente e a narração. Começando pelo último, o modo de escrita da Isabel Allende me fez lembrar do que é realmente ser escritor. Ela consegue dar tantas cores à história só com palavras, que é até surpreendente. Em certo ponto eu percebi que lia pensando em vozes diferentes para os personagens, até diferenciando a voz da própria Maya criança para a atual (que tem 19 anos).
Já a segunda base é o presente, o que vai acontecendo com a Maya conforme ela passa os dias na ilhazinha. Ficamos sabendo sobre a cultura local (muita coisa, aliás - supertições, costumes...), sobre as pessoas que vivem ali e como ela consegue se adaptar a esse novo mundo.
E, a principal base, o passado. Não só o de Maya, mas tudo o que aconteceu antes e ela acha importante contar. Ela conta dos avós, com quem viveu. É difícil não gostar, ou pelo menos não rir, com a avó dela. Ficamos sabendo de antes dela nascer, da infância dela, da adolescência e de dois períodos seguintes importantes.
É claro que tanto o passado quanto o presente estão interligados, com coisas de uma época que influenciam nos acontecimentos da outra. Isso é até por causa do controle cuidadoso da Isabel Allende com a forma que ela dá informação. Você começa não sabendo nada, mas a Maya do presente sabe de tudo. Porém, ela não adianta nada e certas informações só vão sendo usadas no presente depois que você descobre no passado.
Não foi um livro de leitura lenta, mas também não foi do tipo viciante. A autora consegue equilibrar bem a curiosidade, mas como a narrativa é muito construída (como uma casa extremamente decorada), você acaba indo um pouco mais devagar e, para muitos, aposto que vai ser entediante. Se você não se interessar pela cultura do lugar, vai ser difícil passar pelas partes sobre as supertições, sobre o escambo que existe entre os moradores ou aceitar uma explicação sobre o abuso sexual lá. Além disso, o livro tem o contraste com a vida no passado e nos EUA, que por si só se abre em vários momentos que tratam de assuntos diferentes. É quase como vários livros (de climas diferentes) completando uma trama só.
No geral, eu gostei bastante, porque me mostrou várias informações sobre lugares que eu não conhecia, até mesmo os EUA. Eu também adorei os personagens, que são muito bem montados, com várias nuances e características diferentes (você fica até imaginando a história deles). Também não acredito que todo livro tem que ser 100% viciante para ser bom.
Indico para...
Eu não indico para as pessoas mais novas, porque provavelmente não vão gostar tanto. A partir dos 16 a chance é de aproveitar mais e, usando a metodologia da Suzanne Collins, 19 anos é o ponto-referência para idade do público. Mas qualquer um acima dessa idade pode aproveitar mais do que alguém abaixo. O livro é uma mistura de Sidney Sheldon com Nora Roberts de um jeito mais latino, então qualquer um que goste desses tipos tem chances de gostar de "O Caderno de Maya". Ah, e qualquer um curioso por natureza e com mente aberta.
O Caderno de Maya vs. Litaratura YA
Achei interessante que é um livro que trata de temas parecidos com os YA, mas acaba misturando um pouco de tudo e dando um tratamento mais adulto e recheado. A Maya, de cara, me fez lembrar da Thalia Grace de Percy Jackson, mas foi mostrando que é muito mais (não que a Maya seja melhor que a Thalia, é só que o Rick Riordan não aprofundou os personagens assim). Também teve momentos que falou da cultura local e me lembrou a Harry Potter. E me lembrei de Jogos Vorazes quando falou sobre da ditadura do Chile, que dá para fazer uma conexão direta (e se você achava Jogos Vorazes cruel....).
E não é só nisso que fica a comparação. Se você pegar a base: uma pessoa tentando encontrar o seu lugar no mundo; dá no mesmo.
Sobre a nota: O livro não é perfeito, mas leva um 5 mesmo assim. Ele perderia ponto em uma coisinha da resolução de tudo, que ficou fraca, mas consegue construir uma história com profundidade o suficiente para superar até isso.
Classificação:
(5/5 conversinhas)
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1 comentários
Essa capa chama a atenção mesmo. Infelizmente, ainda não tive a oportunidade de ler nenhum livro da Allende. Quero muito ler "A casa dos espíritos", já que adorei o filme.
ResponderExcluirÓtima dica!
bjo