O Paulo aqui do blog encontrou esse texto da autora Julie Kagawa ("O Rei de Ferro") falando sobre a diferença entre distopia e pós-apocalipse, que no meio dessa avalanche de livros desses estilos às vezes acabam sendo confundidos. A forma como ela enxerga e a opinião sobre o assunto é muito parecida com nossa, então nada melhor do que colocar aqui, né? E ainda dá para pegar dicas de alguns livros.
Distópico vs. Pós-Apocalíptico, por Julie Kagawa
O ano de 2011 veio e foi, e nós demos boas vindas a 2012 cheios de esperança, sonhos e ansiedade por causa de todos os livros que vão ser lançados nesse ano. O mundo literário foi inundado com listas de must-have em 2012, me fazendo perceber duas coisas.
1. Há um MONTE de livros distópicos e pós-apocalípticos sendo lançados esse ano.
2. Há um MONTE de gente que pensa que os dois tipos são a mesma coisa.
E, como eu mesma tenho um livro pós-apocalíptico sobre vampiros que sairá esse ano ("The Immortal Rules"), eu pensei que poderia esclarecer as coisas. Pós-apocalíptico e distópico não são a mesma coisa. São dois gêneros diferentes; apesar de terem características parecidas, é errado misturar os dois. E vou explicar por que eu penso assim:
Distópico
Distópico tem sido um termo muito popular ultimamente, está na frase de efeito de todos os livros que apresentam uma sociedade futurística, ou um evento de fim do mundo, sobreviventes lutando contra situações horríveis, etc. Contudo, um livro de distopia é sobre a SOCIEDADE onde algo deu totalmente errado. Muitas vezes, o lado ruim e a corrupção da sociedade são retratados como algo normal, tipo em Jogos Vorazes em que a Colheita é um dia de celebração. Outras vezes, o lado ruim está escondido, apesar de sempre haver pistas logo abaixo da fachada cuidadosamente construída. Distopia é o oposto de utopia, onde a sociedade É perfeita e todos são felizes, a não ser pelo fato de que uma sociedade utópica quase sempre acaba se transformando em distopia, porque uma sociedade perfeita faria um livro bem tedioso.
Distopia e pós-apocalipse podem ser facilmente confundidos, porque uma sociedade distópica costuma surgir das cinzas que um evento pós-apocalíptico. No entanto, em um livro distópico o foco está na sociedade, no que há de errado nela, mais do que no apocalipse em si.
Quer saber mais sobre distopia? Explicamos aqui. |
Pós-Apocalíptico
Um livro pós-apocalíptico, por outro lado, é sobre um evento catastrófico que muda o mundo: enchentes, zumbis, epidemias, terremotos, tempestades solares, a lua saindo do alinhamento, etc. O evento pode já ter acontecido, ou estar acontecendo, mas um livro pós-apocalíptico é sobre os sobreviventes e como eles lidam com esse mundo novo - e letal. E pode até ter sinais de distopia no livro, como quando novas sociedades surgem do que sobrou da civilização. Mas um livro pós-apocalíptico é sobre os sobreviventes, e tudo o que eles enfrentam depois que o mundo acaba.
"The Last Of Us" é um jogo pós-apocalíptico |
É possível um livro ser os dois? Sim, com certeza. "A Floresta de Mãos e Dentes" da Carrie Ryan me vem à cabeça. Claramente, o mundo foi tomado por um apocalipse zumbi, mas o livro é também sobre o vilarejo e a sociedade cercada pela floresta. Então há misturas. Mas eu quis apontar as diferenças entre distopia e pós-apocalipse, porque não são a mesma coisa. Então quando você pegar o livro que você está louco para ler, você vai saber do que chamá-lo.
Repare que essa é a opinião de uma pessoa sobre o assunto.
Comentário do ConversaCult
Acho que agora ficou um pouco mais claro, não é? Isso me fez lembrar das minhas inúmeras aulas em que eu precisei analisar um texto buscando certos aspectos (como procurando gêneros) e os professores insistiam mais ou menos umas mil vezes: "Não tem só um, mas tem um que aparece mais!". Na hora de classificar livros (músicas, filmes, etc.) é exatamente assim. Dificilmente você terá só um gênero, praticamente todos têm um pouco de romance ou comédia. Porém, ter um romance não significa que o livro seja um romance (ou vai dizer o que? "Tá querendo um romancezinho? Vai ler Harry Potter!").
O mesmo acontece com esses gêneros mais diferentes e que não estamos acostumados, tipo distopia e pós-apocalipse. A maioria dos livros dos dois tipos que eu li acabam misturando os elementos, às vezes chegando a ficar difícil definir o livro. Jogos Vorazes na maior parte do tempo é distopia, mas tem pós-apocalipse (Panem surgiu de onde?), sobrevivência (parte das arenas), ficção cientifica (bestantes e todas aquelas coisas)... Ao mesmo que, Apocalipse Z, que nós indicamos no Distrito 13 para os fãs de Jogos Vorazes, começa como um clássico livro pós-apocalíptico, de um homem enfrentando o inferno para sobreviver aos zumbis; Mas a trilogia termina com uma distopia muito boa.
Tá, e que diferença faz na nossa vida saber se é uma coisa ou outra? As classificações são para nos ajudar no meio desse mundo de opções a escolher o que queremos sem precisar ler um por um. E se você for ler uma distopia procurando pós-apocalipse, vai acabar não gostando e criticando um livro por algo que ele não é. Para você ter ideia, um livro que você talvez até tenha ouvido falar e provavelmente nem goste só pelo que ficou sabendo, "Sangue Quente", sofre com um problema assim**. Primeiro, você acha que é de zumbis. Depois, acha que é romance (de um zumbi com um humana!!!!). O livro tem esses elementos, mas não é sobre uma coisa nem outra, é sobre a recuperação da humanidade. O apocalipse que eles enfrentam não é só a destruição do mundo ou o ataque de zumbis, é a falta de humanidade. Aí você abre o livro procurando "The Walking Dead" ou Crepúsculo*, fica difícil.
*Não que eu esteja culpando ninguém, a propaganda tem sido muito errada e eu tenho medo do filme transformar a história nisso. Quando eu comecei a ouvir falar, também achava algo assim, até que eu decidi ler o livro e ele apagou meus preconceitos.
**Uma curiosidade do momento: depois de escrever esse post encontrei um comentário falando que o final de Apocalipse Z deixa muito a desejar, mas é porque acontece isso com a história: começa uma coisa, pós-apocalíptico, e termina como outra, distópico. Se a pessoa não aceitar os dois tipos, vai desanimar.
Outros livros dos estilos:
"Divergente", de Veronica Roth. O primeiro livro não é distopia nem pós-apocalipse, mas a série/trilogia caminha para ser distopia
"A Passagem", de Justin Cronin. Um pós-apocalipse mais adulto e com um toque sobrenatural (ou qualquer coisa que nós ainda não descobrimos), mas, como normalmente acontece, mostra um pouco sobre essas distopias que surgem das cinzas das civilização.
"Bios", de Luiza Salazar. Esse livro está no meio do caminho de tudo, mas consegue criar um estilo pós-apocalipse no início e para o final uma espécie de distopia.
"O Pacto", de Gemma Malley. Mais infantil e uma mistura entre utopia e distopia.
"Os Anos de Fartura", de Chan Koonchung. Esse é mais para quem gosta do lado distópico-crítico da coisa, o livro traz verdades sobre o agora e o possível futuro que às vezes deixamos passar direto.
"Gone - O Mundo Termina Aqui", de Michael Grant. Imagine um Sidney Sheldon escrevendo uma série, com personagens mais novos, com detalhes mais crus e sobre um fim do mundo que é a sua cidade ficar isolada e todos maiores de 14 anos desaparecerem. Pós-apocalipse e, pelo menos no primeiro, nenhuma grande distopia chega a ser construída.
"A Hospedeira", de Stephenie Meyer. Aqui os mundos são dominados por alienígenas que na busca da paz não exitam em passar por cima dos humanos. Pós-apocalíptico.
O texto foi cedido pela autora para tradução.
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9 comentários
Excelente texto, clareia algumas coisas, e me faz ter outros questionamentos. Gosto muito de ambas as temáticas.
ResponderExcluirGostei do post! Realmente me ajudou bastante a diferenciar os tipos de livro distópico e pós-apocalíptico. Até porque é bom você saber fazer isso, pois na hora de escolher o livro já terei uma base estruturada pra o que eu quero ler...
ResponderExcluirObrigado ConversaCult! E continuem assim! :)
Adoro textos desse tipo, que vê para esclarecer as coisas e abrir os olhos dos leitores. Eu mesma não sabia muito bem a diferença, mas alguma coisa de diferente eu sabia que tinha (confuso,não? Não consegui explicar melhor). Não sou a maior fã desse gênero, mas um ou outro estão na minha lista de lidos e aprovados. É ótimo poder saber do que estou falando =)
ResponderExcluirBeijos.
http://amoressobrenaturais.blogspot.com.br/
Gostei muito do esclarecimento, e acho que muita gente confunde essas duas coisas. Na minha opinião, não faz muita diferença ter que DIFERENCIAR com afinco os dois gêneros, mas quando queremos IDENTIFICAR, como por exemplo em uma resenha do livro em questão, é necessário saber o que os dois elementos significam. Enfim, o texto foi bem detalhista, e sobre os exemplos de livros que se enquadram nos elementos acima, me interessaram, e talvez eu encaixe alguns na minha meta de leitura.
ResponderExcluirAbraços, Joshua - pensamentosdojoshua.blogspot.com
Já havia lido o texto da Julie logo que ela lançou. Gostei muito e na época eu me confundia entre as duas coisas!
ResponderExcluirJá li ótimos livros nos dois estilos! Aliás distopia tem sido meu estilo preferido ultimamente, muitos livros bons lançados recentemente. Os pós-apocalípticos também estão surpreendendo!!
Nem preciso dizer né que meu queridinho Jogos Vorazes está na lista!! Divergent é outro que AMEI (só esperando sair da pré-venda a continuação para comprar). Gone é outra série que AMO! A floresta de mãos e dentes também já li e é realmente um misto dos dois, mas me decepcionei um pouco com ele e até desanimei de ler as continuações que eu tenho aqui.
Doida pra ler The Immortal Rules da Julie! Estou amando a série The Iron Fey.
Amei o post!!
~~ Andresa Dias ~~~
~~ Leituras & Fofuras ~~
http://www.leiturasefofuras.com.br/
Ótimo texto! Como disseram, não é necessário diferenciar os dois gêneros, mas é bom ter em mente o que cada um abrange para evitar decepções na hora de escolher um livro para ler.
ResponderExcluirBjo!
Parabéns pelo texto. Realmente muitas pessoas ainda tem dúvidas sobre o que é o que! Confesso que eu mesma não sabia direitinho o que cada um abrangia!
ResponderExcluirObrigada pelo esclarecimento!
Um beijo,
Nica
Adorei a explicação! Elucidou uma dúvida de me consumia há tempos!
ResponderExcluirObrigada! =)
Finalmente encontro uma alma que bate com a minha!
ResponderExcluirUma colega na Universidade tem tentado provar que O ÚLTIMO HOMEM, de Mary Shelley, é a primeira distopia, porém o livro é Pós-apocalíptico. Carece de muitas características presentes na Distopia. E hoje se classifica tudo como tal. O.o
Parabéns pelo texto!