"Com tudo empacotado, apoiei a bagagem no saguão de entrada, bem ao lado do portão por onde terei de sair em poucos minutos. Lúculo está extremamente nervoso e me custou um bom bocado de persuasão, carícias atrás das orelhas e muitos sussurros para convencê-lo a entrar em sua gaiolinha. Ele nunca gostou dela (de fato, no carro ele sempre vai sentado no SEU banco, o do passageiro), mas não tenho alternativa. Não posso me arriscar a levar o gato no colo com essas coisas tentando nos pegar. Lamento por Lúculo, mas ele terá de ir na gaiola. Se esses bichos me pegarem, isso significará morte certa para meu pequeno amigo, que não terá possibilidade de fugir, mas acho que é um risco que devemos correr.
Vesti a roupa de neoprene e verifiquei minhas três armas: arpão, Glock e espingarda. Dei uma última volta pela casa, acariciando com o olhar todos os cantos que me são tão familiares. Não sei se um dia votarei a ver isso tudo. Toda a minha vida está aqui, e agora tenho de sair com rumo desconhecido e sem ter a certeza de estar vivo daqui a meia hora. É de enlouquecer. Minha sala, minha cozinha, meu escritório, que nunca cheguei a pintar da cor que realmente queria, esse sofá com o estofado totalmente arranhado por meu pequeno companheiro. Subi ao sótão com lágrimas nos olhos e peguei uma velha blusa dela. Todas as coisas dela estão aqui desde que morreu, e agora vou abandoná-las para sempre...
Enxuguei as lágrimas e fui para o quintal, para começar a executar meu plano. Da próxima vez que escrever neste diário será para contar como foi. Se não escrever de novo... Bem, evidentemente, algo terá saído errado e um novo cadáver vestindo roupa de mergulho andará pela cidade. Mas não sem antes ter vendido sua pele bem caro. Estou aterrorizado. Estou nervoso. Mas também estou decidido. Vamos lá."
Páginas 102-103
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